Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Letra Composta por: Caetano Veloso
Melodia Composta por:
Álbum: CINEMA TRANSCENDENTAL
Ano: 1979
Estilo Musical:
Em Cajuina, o magistral Caetano Veloso, expressa a sua dor e reflexão, diante da morte do amigo e idealizador da Tropicália, o poeta piauiense Torquto Neto. Torquato Neto, nacionalista, revolucionário, visionário que fez a cabeça dessa geração tropicalista, Chico, Caetano, Gil, e tantos outros. Depois, cai em solidão profunda, aventura-se no cinema novo com Glauber Rocha e, após ver todos so seus amigos exilados, excreve um bilhete após ver a carnavalização em Holywood com Carmem Miranda,portuguesa, se passando por brasileira(tropicalista) com a cabeça dheia de frutas tropicais, escreve um bilhete, “morri porque caiu um abacaxi na cabeça do meu pau” e liga as troneiras de gás no Rio e suicida-se.
O intelectual e ativista cultural, Torquato Neto, há muito não falava com CAetano, este vai a teresina por ocasião do seu enterro e faz essa música. Existirmos… uma reflexão ” viver pra quê? a que se destina?…”
agradece a Torquato por ter lhe dado a rosa pequenina, (cultura)ou conhecimento. o poeta magro como todos os tropicalistas da época” apenas a matéria vida era tão fina”. Lembranças e reminiscencias de um passado não muito distante que agora se avoluma com a morte do amigo.
E ele compara seu olhar cristalino e puro com a Cajuína. Bebida original do Piauí que caracteriza-se por ser a “essencia”, o”supra-sumo” da pureza do caju. Um elemento nordestino, puro, resistente, cristalino que não se turva.
è por aí.
Querido Edson,
A rosa foi dada a Caetano pelo pai de torquato neto. Caetano, apos a morte dele, faz uma visita aos pais de torquato. E em meio aos prantos de caetano, o pai de torquato, tenta anima-lo e oferece uma cajuina para ele beber e a rosa menina.
Belo comentário Edson Gallo. Saciou a minha curiosidade sobre a música.
Só discordo do termo “nacionalista” a Torquato Neto, sendo um poeta (e tudo mais) claramente ligado a contracultura e posteriormente ao tropicalismo.
Não desejo comentar “Cajuína”. Desejo somente parabenizar o Edson Gallo pela bela e sensível análise. Tudo a ver!
há muitos anos vejo o nosso querido trio virgulino interpretando essa canção do caetano, e sempre ficava matutando sobre o significado desse poema.
Bom, nunca gostei muito de análises de poesias não, rssr, mas nesse caso, pela sutileza como o assunto foi abordado pelo compositor, fui buscar alguma análise dessa obra.
a coincidencia é que mais de dez anos após surgir a dúvida decido procurar saná-la, e encontro um comentário feito há menos de um mês.
e olha, sucinto como a canção foi nosso comentarista. talvez o uso de muitas palavras não pudesse traduzir algo tão belo por sí só, e belo pela simplicidade.
perfeitas, a obra e a análise desta.
Eu sei que existe um livro que estuda em um de seus capítulos a relação entre a letra dassa música e a sua linguagem musical, alguém podería me dizer se sabe que livro é esse? pois me sinto bastante contemplado com cada comentário mas desejo ir mais a fundo, se souberem estarei grato.
abraço
A analise é ótima.Só complementando, acredito que “A sina do menino infeliz” que acabou se matando, se não conseguir iluminá-los,(Seus amigos), tampouco “turva-se”, “deixa-se menos cristalina” a lágrima nordestina(dos seus amigos por causa da sua morte)
“Apenas a matéria vida era tão fina”, diz como a vida é frágil.
No fim:”E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina ”
Em outras palavras quer dizer: Eu olhei pra vc ali morto, lembrei do passado, intacto na retina, e chorei(lagrima nordestina=cajuína cristalina em Teresina”
http://blogs.abril.com.br/lenidavid/2009/03/existirmos-que-sera-que-se-destina.html
Resposta a Guilherme Gaião : não necessáriamente desta música mas, li recentemente um trabalho de Acácio Tadeu de Camargo e Allan Medeiros Falqueiro- ” A Retórica Musical da MPB” que achei interessante. Espero ajudar.
“Quem conta um conto aumenta um ponto”, já dizia o ditado popular.
Li o comentário do Edson Gallo (bastante esclarecedor, parabens) e quero acrescentar o que ouvi falar sobre o assunto: após a morte de Torquato, durante um show de Caetano no Piauí, um velho aproximou-se do palco e o ofereceu um ramo de rosa-menina (aquela rosa miudinha), depois se apresentando no camarim como o pai do Torquato Neto, que Caetano ainda não conhecia.
Este fato, então, teria gerado a inspiração para a música.
A explicação do prórpio: http://www.youtube.com/watch?v=S5NxSwkwx-o&feature=related
Eu só quero deixar registrado que aprendi muito, lendo estas interpretações.Ouvi esta música pela primeira vez na voz de Elba Ramalho e Paulo Ricardo,os dois estavam se apresentando em algum programa que ñ me recordo qual, fiquei encantada com a letra, só agora fui saber que era de Caetano Veloso. Linda! E difícil de interpretar para quem desconhece os fatos!
O livro que dedica um capítulo sobre tal canção é: leitura de poesia organizado por Afredo Bosi, o artigo é de José Miguel Wisnik e chama-se: Cajuína transcendental. Espero que ajude.
Essa música é uma homenagem ao seu amigo Torquato Neto que suicidou-se em 72, após a morte Caetano visitou o pai do rapaz em Terezina e na recepção este ofecereu essa fruta, comun na região nordeste. O clima da visita é retratado na música. “Tampouco turva-se a lágrima nordestina”
A rosa foi dada a Caetano pelo pai de torquato neto. Caetano, apos a morte dele, faz uma visita aos pais de torquato. E em meio aos prantos de caetano, o pai de torquato, tenta anima-lo e oferece uma cajuina para ele beber e a rosa menina.
Fruta?
Vi e ouvi uma entrvista do Caetano, acho que foi no Altas Horas com o Serginho G. Ele explicou q após o falecimento do amigo Torquato Neto, foi fazer uma visita ao pai. Ambos passaram muito tempo em silêncio até que o pai do Torquato saiu p/ o jardim e de lá voltou com uma flôr. Daí surgiu a inspiração.
eduardo bastos
Exatamente, vi no altas horas, não faz um mês!
E o Vicente Barreto, não é parceiro na música Cajuína?
Onde é que ele fica, já que nunca é citado?!
Que caju o que? Caju é de fazer suco. Que droga de musica,seria melhor se chamasse Maracujina, pelo menos existe.
É uma bebida típica do Piauí, feito à base de caju (ou das folhas do cajueiro).
Que driga de comentário!
Leia-se ‘droga’.
Brilhantes Edson Gallo e Eduardo Bastos. Esta é a “história” da música que eu conhecí via meu cunhado (também precocemente falecido). Ouvir esta música conhecendo a historia da construção do poema é completamente diferente de quando não se conhece a verdadeira história do poema.
Prezada Sol do comentário 2,
Cajuína é uma bebida a base de caju. A bebida é de cor castanha. É um tipo de suco concentrado muito consumido nos estados do Ceará e do Piauí e não é gaseificado, sendo que a Cajuína piauiense é considerada a melhor. Por isso a cajuína cristalina em Teresina. Acho que a informação pode ajudar nas interpretações.
detalhe é que a cajuína é um líquido doce (apesar de conter apenas o doce da frutose do cajú), cristalino e que se consome gelado. com certeza o autor além de fazer uma homenagem ao amigo quis fazer uma homenagem a cidade, pois a bebida alem de gostosa é um produto muito consumido em Teresina.
A cajuína é tipicamente piauiense e é um produto que é feito de forma lenta e artesanalmente. Sem dúvida, apesar da tristeza do momento, foi uma bela homenagem.
http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44704/
publiquei o livro torquato neto ou a carne seca é servida. 622 páginas, com bastante ilustração. poemas, canções, cartas, diários, fotos, entrevistas, artigos, fortuna crítica.um roteiro para quem queira conhecer um pouco esse nosso torquato neto. contato: [email protected]
Explicação do próprio Caetano:
http://www.youtube.com/watch?v=S5NxSwkwx-o
Caetano Veloso comentou no antigo “Programa Livre” que era muito amigo de Toquarto Neto e de seu pai, mas que, no momento em que Toquarto se matou, já fazia tempo que não se viam.
Disse ainda que anos após a morte do amigo, a mãe do mesmo teve sério problema de saúde e foi hospitalizada. Nesse momento, Caetano foi visitar o pai do Toquarto, mas que acabou se emociando demais no encontro e que chorou muito naquele dia, sendo que o pai do Toquarto é que teve que ampará-lo.
Caetano contou que pouco conversaram naquele encontro.
Determinada hora, o pai do Toquarto lhe serviu uma cajuína e o deixou sozinho na sala da casa e foi ao quintal.
Quando retornou, estava com uma rosa pequenina nas mãos e a ofereceu ao Caetano.
Disso surgiu sua inspiração para a música.
Penso que Cajuína é uma música escrita para Toquarto Neto, mas direcionada mais diretamente ao pai dele, além de ao próprio Caetano Veloso, tendo como pano de fundo uma reflexão sobre a própria vida.
Vejamos:
“Existirmos: a que será que se destina”
O poeta divagando…
“Pois quando tu me deste a rosa pequenina”
Está falando do momento em que o pai do Toquarto lhe deu a rosa pequenina
“Vi que és um homem lindo […]”
Creio que aqui começam a se “misturar as homenagens”. O tal “homem lindo” pode ser tanto o pai (destinatário direto da canção, creio) quanto ao próprio Toquarto, em uma reminiscência do amigo, sendo que o adjetivo em questão esta fazendo referência à qualidades do tal “homem” enquanto pessoa.
“[…]e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina”
Nesse trecho, creio que “a sina do menino infeliz” pode tanto significar a sina de Toquarto, que havia se matado, quanto, mais remotamente, a do próprio Caetano, que estava muito triste e chorando naquele dia. Ele que, provavelmente, teria ido visitar o pai do Toquarto para apoiá-lo na fase difícil em que se encontrava, com a mulher hospitalizada.
Nesse passo, o “nos” da expressão “nos ilumina” poderia significar tanto Caetano e o pai do Toquarto, quanto um aspecto mais geral, com a intenção do poeta de ter seu poema como uma reflexidão diante da vida.
“Tampouco turva-se a lágrima nordestina”
Se é certo que a sina do menino infeliz não nos ilumina (morte do Toquarto ou o choro descompassado do Caetano) não melhorou a vida de ninguém, nem do pai dele, nem do Caetano, por óbvio, não modificou aquilo que lhe causou a depressão, tal como o choro do Caetano não ajudou de modo algum o pai do falecido; ela também não fez “turvar a lágria nordestina”. Para mim, Caetano pode estar a afirmar que, claro, o pai do Toquarto não se iluminou com a morte do filho, mas que também não o abalou a ponto de chorar, no sentido de padecer em sofrimento. Não porque não sofresse com a morte do filho, mas, nordestino, é antes de tudo um forte.
“Apenas a matéria vida era tão fina”
A “matéria vida era tão fina” a representar o magro Toquarto, segundo algum colega aqui expôs, também, em um lindo jogo de palavras, expõe a fragilidade da vida, em todos os sentidos possíveis.
“E éramos olharmo-nos intacta retina”
Sendo que toda essa reflexão se deu apenas pelo olhar, já que não trocaram muitas palavras naquele momento.
“A cajuína cristalina em Teresina”
E o que sobra é a cajuína, cristalina, em Teresina; representando Toquarto, seu pai, Caetano ou a própria… vida? Para mim, tudo isso.
muito bom
Parabéns.
Foi a melhor interpretação.
é uma musica intrigante, cantamos no coral e muita gente achou dificil e não entendeu nada, inclusive eu. Só c a busca na internet passei entende la, linda e no final de uma das apresentações ele dedica p completar a violeta arraes. ficou completa letra, melodia etc e compartilho esta lágrima nordestina c caetano veloso. Valeu amigo.
gostei da análise da galera ai, estão de parabéns, mas vi que rolou uma duvida sobre a cajuína, eu também vi essa entrevista do caetano no antigo programa livre do serginho groisman, a interpretação sobre ” A CAJUÍNA CRISTALINA EM TERESINA” nada mais foi o momento em que o pai do Torquato serviu a cajuína durante essa visita do caetano a sua casa, e depois o presenteou com uma rosa menina.
Pra mim foi uma linda homenagem que Caetano Veloso fez ao poeta Torquato Neto. Ao chegar em Teresina e ali visitando o pai de Torquato, ficou muito emocionado e começou a chorar e sendo consolado pelo pai de Torquato, que o mesmo lhe serviu uma cajuína, bebida feita do caju, gostosa e cristalina. O pai do amigo falecido vai até o quintal e lhe oferece uma rosa. Daí os dois ficam calados a se olhar, Caetano chorava enquanto o pai de Torquato lhe consolava.
Histórias sempre boas de se ouvir…
O destino da vida: A história por trás de Cajuína, de Caetano Veloso
Por Fernanda Mendonça – jun 3, 2015.
“Caetano havia chegado a Teresina para um show. Estava muito triste. Retornava pela primeira vez à cidade onde havia nascido um de seus principais parceiros na Tropicália e seu grande amigo, o poeta Torquato Neto, meu primo, que havia se suicidado em 1972”, escreveu o jornalista, poeta e escritor piauense Paulo José Cunha.
Foi a partir desse momento que começou a ser escrita a história das entrelinhas de Cajuína, música de Caetano Veloso gravada em 1979 para o disco Cinema Transcendental. Oito versos de um xote um tanto melancólico que se questiona sobre a efemeridade da vida, de belezas e mistérios.
A canção começou a ser composta por Caetano quando chegou a Teresina (PI) com a turnê Muito e recebeu no hotel a visita de Dr. Heli Nunes, o pai de Torquato. Aquela era a primeira vez que o encontrava após o trágico fim do amigo.
“Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental”, relembrou Caetano, que não havia chorado no momento em que recebeu a notícia da morte súbita de Torquato. Foi apenas ao se encontrar com Dr. Heli, anos depois do ocorrido, que sua “dureza amarga se desfez”, como traduziu o próprio Caetano.
Naquele momento de reencontro, Caetano derramou as lágrimas guardadas e foi consolado com grande ternura pelo pai de seu amigo. Dr. Heli o levou até sua casa e lá ficaram a sós (já que Dona Maria Salomé, mãe de Torquato, estava hospitalizada). Ele conta que não trocaram muitas palavras, mas contemplaram juntos as inúmeras fotografias de Torquato expostas pelas paredes da casa.
Dr. Heli, como se desejasse relembrar a beleza da vida, deu ao amigo de seu filho uma rosa-menina colhida diretamente do quintal; e também serviu cajuína, como se quisesse adocicar aquele instante. Caetano continuava a derramar lágrimas, mas não mais de tristeza ou amargura. “Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei”, simplificou Caetano.
E foi no dia seguinte, quando pegou a estrada, que Caetano escreveu Cajuína, expressando em palavras cantadas a complexidade e simplicidade de momentos que despertam sentimentos quase intraduzíveis.
Edson Gallo !!!! Que coisa de louco esse texto !! O sentimento do Caetano foi extraído aqui de forma clara e límpida, como são as coisa que brotam do coração.
Puxa quero ler mais sobre você ! Um grande abraço .
Do outro lado no Sul do Brasil já sou seu fã ! Porto Alegre -RS
Paulo J. Ramos
Grande Caetano Veloso
caetano fala sobre a letra em um video. Um pouco diferente q escrevestes…
Senhor Edson Gallo, agradeço, de coração, seu comentário, um verdadeiro esclarecimento sobre a letra da mújsica Cajuína, que eu adoro, mas honestamente nao entendia.
Cajuína é mais uma pérola da obra de Caetano. Fico muito feliz por agora compreender essa linda poesia. Um grande abraço ao senhor, ao Caetano e aos belos jestos da familia do Torquato Neto.
A Carmen Miranda morreu em 1955