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Manda embora essa tristeza

Manda embora essa tristeza, manda por favor
Pode ser que essa tristeza mate o nosso amor.
Manda embora essa tristeza, manda por favor
Pode ser que essa tristeza mate o nosso amor.
Tu andas tão triste, somente a chorar
Mas por isso eu não vou me privar de dançar
Tu sabes que eu passo o passo na rua
Mas é pensando na imagem tua.
Manda embora essa tristeza, manda por favor
Pode ser que essa tristeza mate o nosso amor.
Tu pensas que eu levo, inverno a verão
A dançar e cantar com o meu violão
Mas não é verdade
Te digo afinal
Só faço isso pelo carnaval.

Bom dia tristeza

Bom dia, tristeza 
Que tarde, tristeza 
Você veio hoje me ver 
Já estava ficando 
Até meio triste 
De estar tanto tempo 
Longe de você

Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

Fita amarela

Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Se existe alma
Se há outra encarnação
Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão

  • REFRÃO

Não quero flores
Nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta, violão e cavaquinho

  • REFRÃO

Estou contente
Consolado por saber
Que as morenas tão formosas a terra um dia vai comer

-REFRÃO

Não tenho herdeiros
Não possuo um só vintém
Eu vivi devendo a todos mas não paguei ninguém

  • REFRÃO

Meus inimigos
Que hoje falam mal de mim
Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim

  • REFRÃO

Feitiço da Vila

Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos
Do arvoredo e faz a lua
Nascer mais cedo

Lá, em Vila Isabel
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba
São Paulo dá café
Minas dá leite
E a Vila Isabel dá samba

A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço decente
Que prende a gente

O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora
Sol, pelo amor de Deus
não vem agora
que as morenas
vão logo embora

Eu sei por onde passo
Sei tudo o que faço
Paixão não me aniquila
Mas, tenho que dizer
Modéstia à parte
Meus senhores
Eu sou da Vila!

A Vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço decente
Que prende a gente

Três apitos

Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Ou está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro
Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé no agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a você
Sou do sereno poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto ao piano
Estes versos pra você

A voz do morto

Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e de prata
De filó, de nailon
Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais
Coitados
Ninguém me salva
Ninguém me engana
Eu sou alegre
Eu sou contente
Eu sou cigana
Eu sou terrível
Eu sou samba
A voz do morto
Os pés do torto
A vez do louco
Na glória
Eu canto com o mundo que roda
Eu e Paulinho da Viola!
Viva Paulinho da Viola!

Com que roupa?

Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta, pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com força bruta
Pra poder me reabilitar

Pois esta vida não está sopa
Eu pergunto com que roupa
Com que roupa . . .eu vou?
Pro samba que você me convidou
Com que roupa . . .eu vou
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou

Seu português, agora, deu o fora
Já foi-se embora e levou seu capital
Esqueceu quem tanto amou outrora
Foi no Adamastor pra Portugal
Pra se casar com a cachopa

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo
Desta praga de urubú
Já estou coberto de farrapos
Eu vou acabar ficando nú

Meu paletó virou estopa
Eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou . .

Palpite infeliz

Quem é você que não sabe o que diz
Meu Deus do céu, que palpite infeliz
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila não quer abafar ninguém
Só quer mostrar que faz samba também

Fazer poemas lá na Vila é um brinquedo
Ao som do samba dança até o arvoredo
Eu já chamei você pra ver
Você não viu porque não quis
Quem é você, que não sabe o que diz

A Vila é uma cidade independente
Que tira samba, mas não quer tirar patente
Pra que ligar a quem não sabe
Aonde tem o seu nariz
Quem é você, que não sabe o que diz

O X do problema

Nasci no Estácio, fui educada na roda de bamba
E fui diplomada na escola de samba
Sou independente, conforme se vê

Nasci no Estácio, o samba é a corda
Eu sou a caçamba
E não acredito que haja muamba
Que possa fazer eu gostar de você

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
E felicidade maior neste mundo não há
Já fui convidada para ser estrela

Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O ‘x’ do problema
Já fui convidada para ser estrela

Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O ‘x’ do problema

Você tem vontade que eu abandone
O Largo do Estácio
Pra ser a rainha de um grande palácio
E dar um banquete uma vez por semana

Nasci no Estácio
Não posso mudar minha massa de sangue
Você pode crer que palmeira do Mangue
Não vive na areia de Copacabana

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
E felicidade maior neste mundo não há

Já fui convidada para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O ‘x’ do problema

Já fui convidada para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O ‘x’ do problema

O orvalho vem caindo

O orvalho vem caindo
Vai molhar o meu chapéu
E também vão sumindo
As estrelas lá no céu
Tenho passado tão mal
A minha cama é uma
folha de jornal

Meu cortinado é o vasto céu de anil
E o meu despertador é o guarda civil
Que o salário ainda não viu

O meu chapéu vai de mal a pior
E o meu terno pertenceu a um defunto maior
Dez tostões no Belchior

A minha sopa não tem gosto, nem tem sal
Se um dia passo bem, dois e três passo mal
Isto é muito natural

A minha terra dá banana e aipim
Meu trabalho é achar quem descasque por mim
Vivo triste mesmo assim

A mulher do leiteiro

Todo mundo diz que sofre
Sofre, sofre neste mundo
Mas a mulher do leiteiro sofre mais;
Ela passa, lava e cose
E controla a freguesia
E ainda lava as garrafas vazias.

E o leiteiro, coitado!
Não conhece feriado
Se encontra satisfeito
Toda noite é sereno
E a mulher dele
Que trabalha até demais
Diz que tudo que ela faz
Ainda é café pequeno.

Passarinho do relógio “Cuco”

Cuco-cuco-cuco!
O passarinho do relógio
Está maluco
Ainda não é hora do batente
Ele fica impertinente
Acordando toda gente

Eu pego às oito e quarenta e cinco
E levanto às sete,
Pra tomar banho e café
Mas quando são mais ou menos
Três e cinco, ele começa:
Cuco-cuco-cuco!
E só termina
Quando estou de pé

Fez bobagem

Meu moreno fez bobagem
Maltratou meu pobre coração
Aproveitou a minha ausência
E botou mulher sambando no meu barracão
Quando eu penso que outra mulher
Requebrou pra meu moreno ver
Nem dá jeito de cantar
Dá vontade de chorar
E de morrer
Deixou que ela passeasse na favela com meu peignoir
Minha sandália de veludo deu à ela para sapatear
E eu bem longe me acabando
Trabalhando pra viver
Por causa dele dancei rumba e fox-trote
Para inglês ver

Chorando pedia

Chorando pedia, mas eu não podia
Porque nesse dia morria uma flor
E ele chorava e não compreendia
Que um dia é do riso e o outro é da dor

E eu lhe dizia, com a voz bem macia
Que a dor passaria, pois sempre passa qualquer dor
E que ele queria e eu ficaria
Com a voz bem macia, falando de amor

Paz e harmonia

Paz e harmonia merece quem quiser sofrer
Choro noite e dia na vida não tenho prazer
Mas juro pelo Cristo Redentor
Eu hei de conquistar o seu amor
Seja como for, seja como for

Só por querer o seu amor
É que eu sofro tanto tanto assim
Faço tudo pra esquecer, mas não pode ser
Eu não sei qual será o meu fim

Desde ontem

Desde ontem que eu não vejo meu amor
Até parece um ano de sofrimento e dor
Poucas horas e parecem tantos anos
Anos de desenganos, horas de amargor

Se eu soubesse que essas horas tão pequenas
Eram horas de tormento e solidão
Eu voltava e peda um mnuto
Um minuto, um minuto e perdão

Camisa amarela

Encontrei o meu pedaço na avenida
De camisa amarela
Cantando a Florisbela, oi, a Florisbela
Convidei-o a voltar pra casa
Em minha companhia
Exibiu-me um sorriso de ironia
Desapareceu no turbilhão da galeria

Não estava nada bom
O meu pedaço na verdade
Estava bem mamado
Bem chumbado, atravessado
Foi por aí cambaleando
Se acabando num cordão
Com o reco-reco na mão
Mais tarde o encontrei
Num café zurrapa
Do Largo da Lapa
Folião de raça
Tomando o quarto copo de cachaça
Isto não é chalaça

Voltou às sete horas da manhã
Mas só na quarta feira
Cantando A Jardineira, oi, A Jardineira
Me pediu ainda zonzo
Um copo d’água com bicarbonato

O meu pedaço estava ruim de fato
Pois caiu na cama
E não tirou nem o sapato

E roncou uma semana
Despertou mal humorado
Quis brigar comigo
Que perigo, mas não ligo!
O meu pedaço me domina
Me fascina, ele é o tal

Por isso não levo a mal
Pegou a camisa, a camisa amarela
E botou fogo nela
Gosto dele assim
Passada a brincadeira
E ele é pra mim
Meu Sinhô do Bonfim

Último Desejo

Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o
seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você
lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você
me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não
presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim