Análise de Letras

Paquetá, dezembro de 56

Paquetá, dezembro de 56


Vocês não lembram

Meninos eu vi uma cabocla chamada Eucy

Ai! nem no Taiti


Boca machucada, olhar coquete, mãos de fada

Que apaixonaram o Roque da charrete numa serenata enluarada


Mas o amor de dois passou a ser de três

Um tal Nandinho que falava inglês disse “I love you”, Eucy achou demais

O Roque enlouqueceu

E nadou pra Brocóio quando a lua se escondeu

Só no dia de São Roque, o Roque apareceu


Diz a lenda

O corpo estava conservado

O céu todo estrelado na noite de Jasmins

Junto à beira mar se despediu do morto, à escolta de mil botos, sereias e marlins

Uma vela azul ardeu no oratório, no altar do preventório

Onde Eucy orou e se matou


Ah, triste destino desses dois amantes

Perderam a vida toda por instantes que o prazer jamais justificou


Ah, o que eu me lembro pode não ter sido tão fielmente o fato acontecido

Essa é a sina que assassina e salva qualquer narrador


Pois talvez Eucy não fosse linda nem tão pura

E o Roque fosse um chato, um mala, um indiscreto, e o tal Nandinho até analfabeto


Mas não tem importância, a vida é uma festa

Eu quis apenas cantar seresta

Eu fumei no preto, e bebi uns tragos do escocês


Vocês não precisam acreditar que um dia aconteceu tanto em Paquetá, dezembro de 56

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