Skip to main content

Velho peão

Levantei um dia cedo sentei na cama chorando
Meu velho tempo de peão, nervoso fiquei lembrando
Senti uma dor no peito igual brasa me queimando
Ouvi uma voz lá fora parece que me chamando
Eu tive um pressentimento
Que a morte na voz do vento
Ali estava me rondando

Eu sai lá pro terreiro, lembrei as horas passadas
Me vi montado num potro,galopeando as invernadas
Também vi um lenço acenando de alguém que foi minha amada
Que há tempos se despediu pra derradeira morada
Tive um desgosto medonho
Ao ver que tudo era um sonho
E hoje não sou mais nada

Pobre de quem nessa vida na velhice não pensou
Ao me ver velho e doente um filho me amparou
Recebo tanta indireta da nora que não gostou
E meu netinho inocente, chorando já me falou
A mamãe já deu estrilo
Diz que aqui não é asilo
Mas eu gosto do senhor

Neste meu rosto cansado queimado pelo mormaço
Duas lágrimas correram, espelho do meu fracasso
É o prêmio de quem na vida não quis acertar o passo
Abri os olhos muito tarde quando já era um bagaço
Vejam só a situação
De quem foi o rei dos peão
Hoje não pode com o laço

A Deus eu fiz uma prece pedindo aos companheiros
Que perdoe todas as faltas desse peão velho estradeiro
Quando eu deixar ete mundo, meu pedido derradeiro
Desejo ser enterrado na sombra de um angiqueiro
Para ouvir de quando em quando
A boiada ali passando
E o grito dos boiadeiros

Adeus amor

adeus meu grande amor

me abrace apertado meu bem adorado vim me despedir

sorria eu não quero que chores porque vou partir

meu grande amor, adeus

eu aqui talvez não voltarei

o destino cruel assim quiz

sem você não sei se viverei

quando, lá bem distante

eu sentir a saudade da felicidade que você me deu

querida eu então por você rezarei a Deus

meu grande amor adeus

eu aqui talvez não voltarei

o destino cruel assim quiz

sem voce não sei se viverei

Mãe do pracinha

O vapor está apitando, e chegou a hora de partir
Minha mãe não fique triste por ver seu filho seguir
Vou lutar em terra estranha manejando meu fuzil
É o dever de um brasileiro defender o seu Brasil

Adeus rios e matas verdes, não sei quando mais virei
Nesses olhos rasos d’água sua imagem eu guardarei
Por esta linda bandeira, como um bravo eu lutarei
Se eu morrer combatendo, com ela eu me cobrirei

Dentro da minha mochila, uma coisa eu vou levar
Um punhadinho de terra, pro mundo inteiro eu mostrar
Com ela eu serei enterrado, se na luta eu tombar,
Porque ela é brasileira, que Deus soube abençoar

Teu retrato, oh minha mãe, levo numa medalhinha
Se acaso eu não voltar, é porque era sorte minha.
Se um dia alguém perguntar quantos filhos você tinha,
Você diga com orgulho, eu tive um que foi “Pracinha”.

Força do destino

Quando um velho pescador/ Um bote foi alcançando
Aquele vulto esquisito/ Rio abaixo ia rodando
E uma linda criancinha/ Dentro de um berço chorando
Junto dela ia uma carta/ Com clareza explicando
Que era filha enjeitada/ Por dois coração tirano

O velho pegou a criança/ Pro seu rancho ele levou
E as roupinhas molhadas/ No fogo êle enxugou
No pescoço da menina/ Uma medalha encontrou
Estava escrito Maria/ Contente o velho falou
Vou criar essa inocente/ Sózinho no mundo eu sou

Maria ficou mocinha/ Mimosa flôr em botão
Era a cabocla mais linda/ Dali daquele sertão
Certo dia um fazendeiro/ Por ela sentiu paixão
Confessando seu amor/ Veio lhe pedir a mão
Embora fosse mais velho/ Êle teve a permissão

Na véspera do casamento/ Maria lhe confessou
Sou uma filha enjeitada/ Minha mãe me enjeitou
Quando ela mostrou a medalha/ Seu noivo até amarelou
Foi saindo meio tonto/ Numa cadeira sentou
Com o choque da notícia/ Seu coração não aguentou

As derradeiras palavras/ Na hora que êle morreu
Essa medalha Maria/ Foi eu mesmo quem te deu
O seu pai sem coração/ Tá provado que sou eu
Esse golpe traiçoeiro/ Que meu peito recebeu
É a força do destino/ Que foi enviado por Deus.

Juramento

Por uma desilusão que eu tive
O meu rincão um dia deixei
Sentindo a dor da ingratidão
Para bem longe então eu mudei
Eu fui viver em outras paragens
E até hoje nunca voltei
Enquanto lá estiver uma pessoa
Nem os meus pais eu não reverei.

Vivo sentindo grande saudade
Mas não esqueço o que jurei
Se eu voltar para o meu rincão
Um criminoso eu me tornarei
Então prefiro viver ausente
Assim do erro me livrarei
Ela não pode ter meu perdão
Também jamais reconciliarei.

Dias felizes do meu passado
No esquecimento entregarei
Até o violão que eu estimava
Há muito tempo abandonei
Meus companheiros de serenata
Eu penso que nunca mais verei
Eles caminham por uma estrada
Também por outra me destinei.

Aqui tão longe sempre recordo
Lindas paisagens que contemplei
Quando o clarão da lua descia
Entre as montanhas onde morei
Nunca mais vi as matas em flores
Outras belezas não encontrei
Nunca mais vi a minha querência
Nem a cabocla que eu mais amei.

A caneta e a enxada

“Certa vez uma caneta foi passear lá no sertão
Encontrou-se com uma enxada, fazendo uma plantação.
A enxada muito humilde, foi lhe fazer saudação,
Mas a caneta soberba não quis pegar na sua mão.
E ainda por desaforo lhe passou uma repreensão.”

Disse a caneta pra enxada não vem perto de mim, não
Você está suja de terra, de terra suja do chão
Sabe com quem está falando, veja sua posição
E não se esqueça a distância da nossa separação.

Eu sou a caneta dourada que escreve nos tabelião
Eu escrevo pros governos a lei da constituição
Escrevi em papel de linho, pros ricaços e pros barão
Só ando na mão dos mestres, dos homens de posição.

A enxada respondeu: de fato eu vivo no chão,
Pra poder dar o que comer e vestir o seu patrão
Eu vim no mundo primeiro, quase no tempo de Adão
Se não fosse o meu sustento ninguém tinha instrução.

Vai-te caneta orgulhosa, vergonha da geração
A tua alta nobreza não passa de pretensão
Você diz que escreve tudo, tem uma coisa que não
É a palavra bonita que se chama educação!