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Indiferente – Júlia Cortines

E vão assim as horas! – Vão fugindoUm após outro os dias voadores,Ao túmulo do olvido conduzindoAs alegrias como os dissabores,O sonho agita as asas multicores,E vai-se e vai-se rápido sumindo,Enquanto a vaga quérula das doresSoluça, e rola pelo espaço infindo…A mim, porém a mim, a mim que importa,A mim, cuja esperança há muito é …

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O infinito – Júlia Cortines

(G. LEOPARDI)AO DR. ESPERIDIÃO ELOY FILHO. Sempre caro me foi este ermo cole,Mais esta sebe, que de tanta parteO longínquo horizonte à vista oculta.Mas, se me assento, contemplando-a, espaçosIntérminos além, e sobre-humanoSilêncio, e profundíssima quietudeMeu pensamento fantasia; e quaseSe me apavora o coração. Se o ventoOuço fremir nas árvores, aqueleInfinito silêncio a este murmúrioVou comparando: …

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Dies iræ – Júlia Cortines

A esse som de trombeta e de alarma, quem há de Dormir? Mortos, deixai a paz da sepultura E acorrei: o que ouvis é o clarim da Saudade! De pé! de pé! de pé! Despedaçai a dura Lousa que sobre vós lançou o esquecimento, Espectros do sofrer, fantasmas da ventura! Ó divina ilusão, que um …

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Finis – Júlia Cortines

Ouço um surdo, abafado e discorde ruído, Logo após um fragor que pelos ares trona. Qual se dum terremoto o solo sacudido Fosse, em torno de mim tudo se desmorona. O que é feito de vós, altivos monumentos, Que afrontáveis do tempo os inúteis furores, Mergulhando no azul dos largos firmamentos, Mergulhando dos céus nos …

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A missão do poeta – Jacinta Passos

No instante inicial da criação,quando o mundo acabava de sairdas mãos de Deus,e quando as coisas todas palpitavam,quentes ainda do seu sopro criador,escutou-se o primeiro cântico, na terra,glorificando o Senhor.Cantao poeta porque seu destino é cantar.Cantar o mesmo canto que irrompeudos lábios do primeiro homem criado,ante a maravilhosa visão da beleza.da esplêndida harmonia universal.Cantar ao …

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Cântico de exílio – Jacinta Passos

Estou cansada, Senhor.Minha alma insaciável,a minha alma faminta de beleza,ávida de perfeição,é perseguida pelo teu amor.Puseste dentro dela esta ânsia infinitacujo ardor queima,como a sede que em pleno deserto escaldantepersegue o viajor.Esta angústia, que cresce e que vibra e palpita,nasceu dentro em mimno mesmo divino instanteem que, morrendo a última ilusão,só me restava afinaluma fria …

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Crepúsculo – Jacinta Passos

Vai lentamente agonizando o dia…O poente onde, há pouco, o sol ardia,se tingiu de cor de ouro, luminosa.Tons desmaiados de lilás e rosalistram o puro azul do firmamento– um poema de luz, neste momento.A sombra de mansinho vem caindoe o contorno das coisas, diluindo.Pesa um grande silêncio, enorme e mudo.Desce suavemente sobre tudo,uma bênção dulcíssima …

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Manhã de sol – Jacinta Passos

Dia azul de Maio. Esplendeum sol de ouro no céu que além se estende. Prolongam-se vibrações do arrebolna clara luz desta manhã de sol.O céu ardente,dum azul luminoso e transparente,tem doçura infinita…Um rumor de asas pelo azul palpita,palpita pelo ar.É carícia sonora, a música do mar.O verde risonhodas árvores é lindo como um sonho.A brisa …

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Catedral – Alphonsus de Guimaraens

Entre brumas, ao longe, surge a aurora.O hialino orvalho aos poucos se evapora,Agoniza o arrebol.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu risonho,Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos:“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cadaRefulgente raio de luz.A catedral …

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Elegia íntima – Ivan Junqueira

Minha mãe chorando no fundo da noiterachou o silêncio do quarto adormecido.Meu pai olhava o escuro e não dizia nada,Um relógio preto gotejava barulho.Lá fora o vento lambia as espáduas do céu.Minha mãe chorando no fundo da noiteApunhalou o sono de Deus.– Ivan Junqueira, em “Os mortos”. Rio de Janeiro: Atelier de Arte, 1964. Ivan …

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O poema – Ivan Junqueira

Não sou eu que escrevo o meu poema:ele é que se escreve e que se pensa,como um polvo a distender-se, lento,no fundo das águas, entre anêmonasque nos abismos do mar despencam.Ele é que se escreve com a penada memória, do amor, do tormento,de tudo o que aos poucos se relembra:um rosto, uma paisagem, a intensapulsação …

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Ritual – Ivan Junqueira

Fecho as janelas desta casa(seus corredores, seus fantasmassua aérea arquitetura de pássaro)fecho a insônia que inundavameu quarto debruçado sobre o nadafecho as cortinas onde a larvado tempo tece agora sua pragafecho a clara algazarra plácidadas vozes sangüíneas da alvoradafecho o trecho taciturno da tocataa chuva percutindo as teclas do telhadoas sombras navegando pelo pátio    …

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Tristeza – Ivan Junqueira

Esta noite eu durmo de tristeza.(O sono que eu tinha morreu ontemqueimado pelo fogo de meu bem.)O que há em mim é só tristeza,uma tristeza úmida, que se infiltrapelas paredes de meu corpoe depois fica pingando devagarcomo lágrima de olho escondido.(Ali, no canto apagado da sala,meu sorriso é apenas um brinquedoque a mãozinha da criança …

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Monjolo chorado do bate-pilão – Raul Bopp

Fazenda velha. Noite e diaBate-pilão. Negro passa a vida ouvindoBate-pilão. Relógio triste o da fazenda.Bate-pilão. Negro deita. Negro acorda.Bate-pilão. Quebra-se a tarde. Ave-Maria.Bate-pilão. Chega a noite. Toda a noiteBate-pilão. Quando há velório de negroBate-pilão. Negro levado pra covaBate-pilão. Raul Bopp Autor: Raul Bopp

XVIII – Jorge de Lima

Éguas vieram, à tarde, perseguidas, depositaram bostas sob as vides. Logo após as borboletas vespertinas, gordas e veludosas como urtigas sugar vieram o esterco fumegante. Se as vísseis, vós diríeis que o composto das asas e dos restos eram flores. Porque parecem sexos; nesse instante, os mais belos centauros do alto empíreo, pelas pétalas desceram …

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A estrada – Ariano Suassuna

No relógio do Céu, o Sol ponteiroSangra a Cabra no estranho céu chumboso.A Pedra lasca o Mundo impiedoso,A chama da Espingarda fere o Aceiro. No carrascal do sol, azul braseiro,Refulge o Girassol rubro e fogoso.Como morrer na sombra do meu Pouso?Como enfrentar as flechas desse Arqueiro? Lá fora, o incêndio: o roxo lampadáriodas Macambiras rubras …

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Lápide – Ariano Suassuna

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalonas pedras do meu Pasto incendiado:fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,com a Espora de ouro, até matá-lo. Um dos meus filhos deve cavalgá-lonuma Sela de couro esverdeado,que arraste pelo Chão pedroso e pardochapas de Cobre, sinos e badalos. Assim, com o Raio e o cobre percutido,tropel de cascos, sangue do Castanho,talvez …

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Momento – Adélia Prado

Enquanto eu fiquei alegre,permaneceram um bule azul com um descascado no bico,uma garrafa de pimenta pelo meio,um latido e um céu limpidíssimocom recém-feitas estrelas.Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,constituindo o mundo pra mim, anteparopara o que foi um acometimento:súbito é bom ter um corpo pra rire sacudir a cabeça. A vida é mais tempoalegre …

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Casamento – Adélia Prado

Há mulheres que dizem:Meu marido, se quiser pescar, pesque,mas que limpe os peixes.Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram,ele fala coisas como “este foi difícil”“prateou no ar dando rabanadas”e faz o gesto …

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Um jeito – Adélia Prado

Meu amor é assim, sem nenhum pudor.Quando aperta eu grito da janela— ouve quem estiver passando —ô fulano, vem depressa.Tem urgência, medo de encanto quebrado,é duro como osso duro.Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:quero é dormir com você, alisar seu cabelo,espremer de suas costas as montanhas pequenininhasde matéria branca. Por hora dou …

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Apanhador de desperdícios – Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios.Não gosto das palavrasfatigadas de informar.Dou mais respeitoàs que vivem de barriga no chãotipo água pedra sapo.Entendo bem o sotaque das águasDou respeito às coisas desimportantese aos seres desimportantes.Prezo insetos mais que aviões.Prezo a velocidadedas tartarugas mais que a dos mísseis.Tenho em mim um atraso de nascença.Eu fui aparelhadopara …

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Retrato do artista quando coisa – Manoel de Barros

A maior riquezado homemé sua incompletude.Nesse pontosou abastado.Palavras que me aceitamcomo sou— eu não aceito.Não aguento ser apenasum sujeito que abreportas, que puxaválvulas, que olha orelógio, que compra pãoàs 6 da tarde, que vailá fora, que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.Perdoai. Mas eupreciso ser Outros.Eu pensorenovar o homemusando borboletas. Manoel de Barros Autor: …

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O fazedor de amanhecer – Manoel de Barros

Sou leso em tratagens com máquina.Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.Em toda a minha vida só engenhei3 máquinasComo sejam:Uma pequena manivela para pegar no sono.Um fazedor de amanhecerpara usamentos de poetasE um platinado de mandioca para ofordeco de meu irmão.Cheguei de ganhar um prêmio das indústriasautomobilísticas pelo Platinado de Mandioca.Fui aclamado de idiota pela maioriadas …

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Aprendimentos – Manoel de Barros

O filósofo Kierkegaard me ensinou que culturaé o caminho que o homem percorre para se conhecer.Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fimfalou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisasdi-menor com a natureza. Aprendeu que as folhasdas árvores servem para nos ensinar a …

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A valsa – Casimiro de Abreu

Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo’as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim;Na valsaTão falsa,Corrias,Fugias,Ardente,Contente,Tranqüila,Serena,Sem penaDe mim! Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!… Valsavas:— Teus belosCabelos,Já soltos,Revoltos, Saltavam,Voavam,BrincavamNo coloQue é meu;E os olhosEscurosTão puros,Os olhosPerjurosVolvias,Tremias,Sorrias,P’ra outroNão eu! Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!… Meu Deus!Eras belaDonzela,Valsando,Sorrindo,Fugindo,Qual silfoRisonhoQue em …

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Risos – Casimiro de Abreu

Ri, criança, a vida é curta, O sonho dura um instante. Depois… o cipreste esguio Mostra a cova ao viandante! A vida é triste – quem nega? – Nem vale a pena dize-lo . Deus a parte entre seus dedos Qual um fio de cabelo! Como o dia, a nossa vida Na aurora é – toda venturas, De tarde – doce tristeza. Casimiro de Abreu …

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Clara – Casimiro de Abreu

Não sabes, Clara, que penaEu teria se – morenaTu fosses em vez de clara!Talvez… Quem sabe?… não digo…Mas refletindo comigoTalvez nem tanto te amara! A tua cor é mimosa, Brilha mais da face a rosa,Tem mais graça a boca breve.O teu sorriso é delírio…És alva da cor do lírio,És clara da cor da neve! A morena …

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O elefantinho – Vinícius de Moraes

Onde vais, elefantinhoCorrendo pelo caminhoAssim tão desconsolado?Andas perdido, bichinhoEspetaste o pé no espinhoQue sentes, pobre coitado?— Estou com um medo danadoEncontrei um passarinho Vinícius de Moraes Autor: Vinícius de Moraes

O tempo – Mário Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…Quando se vê, já é 6ª-feira…Quando se vê, passaram 60 anos!Agora, é tarde demais para ser reprovado…E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,eu nem olhava o relógioseguia sempre em frente… E …

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Presença – Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,teu perfil exato e que, apenas, levemente, o ventodas horas ponha um frêmito em teus cabelos…É preciso que a tua ausência trescalesutilmente, no ar, a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadasnão se sabe por quem nalgum móvel antigo…Mas é preciso, também, que seja como …

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Tic-tac – Mário Quintana

Esse tic-tac dos relógiosé a máquina de costura do Tempoa fabricar mortalhas. Mário Quintana Autor: Mário Quintana

Relíquia íntima – Machado de Assis

Ilustríssimo, caro e velho amigo, Na quinta-feira, nove do corrente,Preciso muito de falar contigo. E aproveitando o portador te digo,Que nessa ocasião terás presente,A esperada gravura de patenteEm que o Dante regressa do Inimigo. Manda-me pois dizer pelo bombeiroSe às três e meia te acharás postadoJunto à porta do Garnier livreiro: Senão, escolhe outro lugar …

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Visio – Machado de Assis

Eras pálida. E os cabelos,Aéreos, soltos novelos,Sobre as espáduas caíamOs olhos meio-cerradosDe volúpia e de ternuraEntre lágrimas luziamE os braços entrelaçados,Como cingindo a ventura,Ao teu seio me cingiram Depois, naquele delírio,Suave, doce martírioDe pouquíssimos instantesOs teus lábios sequiosos,Frios trêmulos, trocavamOs beijos mais delirantes,E no supremo dos gozosAnte os anjos se casavamNossas almas palpitantesDepois a verdade,A …

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Desejo – Hilda Hilst

Quem és? Perguntei ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada. IPorque há desejo em mim, é tudo cintilância.Antes, o cotidiano era um pensar alturasBuscando Aquele Outro decantadoSurdo à minha humana ladradura.Visgo e suor, pois nunca se faziam.Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivoTomas-me o corpo. E que descanso me dásDepois das lidas. Sonhei penhascosQuando …

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I-Juca-Pirama – Gonçalves Dias

                      I No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já …

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O canto do piaga – Gonçalves Dias

           I Ó guerreiros da Taba sagrada,Ó guerreiros da Tribo Tupi,Falam Deuses nos cantos do Piaga,Ó guerreiros, meus cantos ouvi.     Esta noite – era a lua já morta –Anhangá me vedava sonhar;Eis na horrível caverna, que habito,Rouca voz começou-me a chamar.  Abro os olhos, inquieto, medroso,Manitôs! que prodígios que vi!Arde o pau de …

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Amavisse – Hilda Hilst

Como se te perdesse, assim te quero.Como se não te visse (favas douradasSob um amarelo) assim te apreendo bruscoInamovível, e te respiro inteiro Um arco-íris de ar em águas profundas. Como se tudo o mais me permitisses,A mim me fotografo nuns portões de ferroOcres, altos, e eu mesma diluída e mínimaNo dissoluto de toda despedida. …

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Estrela perigosa – Clarice Lispector

Estrela perigosaRosto ao ventoMarulho e silêncioleve porcelanatemplo submersotrigo e vinhotristeza de coisa vividaárvores já floresceramo sal trazido pelo ventoconhecimento por encantaçãoesqueleto de idéiasora pro nobisDecompor a luzmistério de estrelaspaixão pela exatidãocaça aos vagalumes.Vagalume é como orvalhoDiálogos que disfarçam conflitos por explodirEla pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é. No obscuro erotismo de vida …

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Quero escrever o borão vermelho de sangue – Clarice Lispector

Quero escrever o borrão vermelho de sanguecom as gotas e coágulos pingandode dentro para dentro.Quero escrever amarelo-ourocom raios de translucidez.Que não me entendampouco-se-me-dá.Nada tenho a perder.Jogo tudo na violênciaque sempre me povoou,o grito áspero e agudo e prolongado,o grito que eu,por falso respeito humano,não dei. Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde …

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Sou… – Clarice Lispector

… assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico – a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade Guiam-me, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de …

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O menino azul – Cecília Meireles

O menino quer um burrinhopara passear.Um burrinho manso,que não corra nem pule,mas que saiba conversar. O menino quer um burrinhoque saiba dizero nome dos rios,das montanhas, das flores,— de tudo o que aparecer. O menino quer um burrinhoque saiba inventar histórias bonitascom pessoas e bichose com barquinhos no mar. E os dois sairão pelo mundoque …

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Para ir à lua – Cecília Meireles

Enquanto não têm foguetespara ir à Luaos meninos deslizam de patinetepelas calçadas da rua. Vão cegos de velocidade:mesmo que quebrem o nariz,que grande felicidade!Ser veloz é ser feliz. Ah! se pudessem ser anjosde longas asas!Mas são apenas marmanjos. Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

Pregão do vendedor de lima – Cecília Meireles

Lima rimapela ramalima rimapelo aroma. O rumo é que leva o remo.O remo é que leva a rima. O ramo é que leva o aromaporém o aroma é da lima. É da lima o aromaa aromar? É da lima-limalima da limeirado auro da limao aroma de ourodo ar! Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

Vozes da morte – Augusto dos Anjos

Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,Tamarindo de minha desventura,Tu, com o envelhecimento da nervuraEu, com o envelhecimento dos tecidos! Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!E a podridão, meu velho! E essa futuraUltrafatalidade de ossatura,A que nos acharemos reduzidos! Não morrerão, porém tuas sementes!E assim, para o Futuro, em diferentesFlorestas, vales, selvas, glebas, trilhos, Na …

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Meus oito anos – Casimiro de Abreu

Oh ! que saudades que eu tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais !Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais ! Como são belos os diasDo despontar da existência !– Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é – lago sereno,O céu …

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A língua de nhem – Cecília Meireles

Havia uma velhinhaque andava aborrecidapois dava a sua vidapara falar com alguém. E estava sempre em casaa boa velhinharesmungando sozinha:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… O gato que dormiano canto da cozinhaescutando a velhinha,principiou também a miar nessa línguae se ela resmungava,o gatinho a acompanhava:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… Depois veio o cachorroda casa da vizinha,pato, cabra e galinhade cá, de lá, de além, …

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A louca – Augusto dos Anjos

A Dias Paredes Quando ela passa: – a veste desgrenhada,O cabelo revolto em desalinho,No seu olhar feroz eu adivinhoO mistério da dor que a traz penada. Moça, tão moça e já desventurada;Da desdita ferida pelo espinho,Vai morta em vida assim pelo caminho,No sudário de mágoa sepultada. Eu sei a sua história. – Em seu passadoHouve …

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Ao luar – Augusto dos Anjos

Quando, à noite, o Infinito se levantaA luz do luar, pelos caminhos quedosMinha táctil intensidade é tantaQue eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos! Quebro a custódia dos sentidos tredosE a minha mão, dona, por fim, de quantaGrandeza o Orbe estrangula em seus segredos,Todas as coisas íntimas suplanta! Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,Nos …

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Apocalipse – Augusto dos Anjos

Minha divinatória Arte ultrapassaos séculos efêmeros e notaDiminuição dinâmica, derrotaNa atual força, integérrima, da Massa. É a subversão universal que ameaçaA Natureza, e, em noite aziaga e ignota,Destrói a ebulição que a água alvorotaE põe todos os astros na desgraça! São despedaçamentos, derrubadas,Federações sidéricas quebradas…E eu só, o último a ser, pelo orbe adeante, Espião …

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Lenço dela – Álvares de Azevedo

Quando, a primeira vez, da minha terraDeixei as noites de amoroso encanto,A minha doce amante suspirandoVolveu-me os olhos úmidos de pranto. Um romance cantou de despedida,Mas a saudade amortecia o canto!Lágrimas enxugou nos olhos belos…E deu-me o lenço que molhava o pranto. Quantos anos, contudo, já passaram!Não olvido porém amor tão santo!Guardo ainda num cofre …

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Meu desejo – Álvares de Azevedo

Meu desejo? era ser a luva brancaQue essa tua gentil mãozinha aperta:A camélia que murcha no teu seio,O anjo que por te ver do céu deserta…. Meu desejo? era ser o sapatinhoQue teu mimoso pé no baile encerra….A esperança que sonhas no futuro,As saudades que tens aqui na terra…. Meu desejo? era ser o cortinadoQue …

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Malva maça – Álvares de Azevedo

De teus seios tão mimososQuem gozasse o talismã!Que ali deitasse a fronteCheia de amoroso afã!E quem nele respirasseA tua malva-maçã! Dá-me essa folha cheirosaQue treme no seio teu!Dá-me a folha… hei de beijá-laSedenta no lábio meu!Não vês que o calor do seioTua malva emurcheceu… (…) Descansar nesses teus braçosFora angélica ventura:Fora morrer — nos teus …

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Tarde de maio – Carlos Drummond de Andrade

Como esses primitivos que carregam por toda parte omaxilar inferior de seus mortos,assim te levo comigo, tarde de maio,quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,surdamente lavrava sob meus traços cômicos,e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantese condenadas, no solo ardente, porções de minh’almanunca antes nem …

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Despedida – Álvares de Azevedo

Se entrares, ó meu anjo, alguma vezNa solidão onde eu sonhava em ti,Ah! vota uma saudade aos belos diasQue a teus joelhos pálido vivi! Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando…Sinto o peito doer na despedida…Sem ti o mundo é um deserto escuroE tu és minha vida… Só por teus olhos eu viver podiaE por teu …

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Eutanásia – Álvares de Azevedo

Ergue-te daí, velho! ergue essa fronte onde o passado afundou suas rugas como o vendaval no Oceano, onde a morte assombrou sua palidez como na face do cadáver, onde o simoun do tempo ressicou os anéis louros do mancebo nas cãs alvacentas de ancião?Por que tão lívido, ó monge taciturno, debruças a cabeça macilenta no …

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Fantasia – Álvares de Azevedo

Quanti dolci pensier, quanto disio!DANTE C’est alors que ma voixMurmure un nom tout bas… c’est alors que je voisM’apparaître à demi, jeune, voluptueuse,Sur ma couche penchée une femme amoureuse!………………………..Oh! toi que j’ai rêvée,Femme à mes longs baisers si souvent enlevée,Ne viendras-tu jamais?………………………..CH. DOVALLE À noite sonhei contigo…E o sonho cruel maldigoQue me deu tanta ventura.Uma …

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Fragmento de um canto em cordas de bronze – Álvares de Azevedo

Deixai que o pranto esse palor me queime,Deixai que as fibras que estalaram doresDesse maldito coração me vibremA canção dos meus últimos amores! Da delirante embriaguez de bardoSonhos em que afoguei o ardor da vida,Ardente orvalhos de febris pranteios,Que lucro à alma descrida? Deixai que chore pois. — Nem loucas venhamConsolações a importunar-me as dores:Quero …

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Idéias íntimas – Álvares de Azevedo

FRAGMENTO.La chaise ou je m’assieds, la natte ou je me couche,La table ou je t’écris, ……………………….…………………………………………….Mes gros souliers ferrés, mon bâton, mon chapeau,Mes livres pêle-mêle entassés sur leur planche……………………………………………..De cet espace étroit sont tout l’ameublement.LAMARTINE. Jocelyn. I Ossian o bardo é triste como a sombraQue seus cantos povoa. O LamartineE’ monótono e belo como a …

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Balada do amor através das idades – Carlos Drummond de Andrade

Eu te gosto, você me gostadesde tempos imemoriais.Eu era grego, você troiana,troiana mas não Helena.Saí do cavalo de paupara matar seu irmão.Matei, brigámos, morremos. Virei soldado romano,perseguidor de cristãos.Na porta da catacumbaencontrei-te novamente.Mas quando vi você nuacaída na areia do circoe o leão que vinha vindo,dei um pulo desesperadoe o leão comeu nós dois. Depois …

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Memória – Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdidodeixa confundidoeste coração. Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não. As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mão Mas as coisas findasmuito mais que lindas,essas ficarão. Carlos Drummond de Andrade Autor: Carlos Drummond de Andrade

Via Láctea – Olavo Bilac

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu …

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Anjinho – Álvares de Azevedo

And from her fresh and unpolluted fleshMay violets spring!HAMLET Não chorem! que não morreu!Era um anjinho do céuQue um outro anjinho chamou!Era uma luz peregrina,Era uma estrela divinaQue ao firmamento voou! Pobre criança! dormia:A beleza reluziaNo carmim da face dela!Tinha uns olhos que choravam,Tinha uns risos que encantavam!Ai meu Deus! era tão bela! Um anjo …

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O vivo – Augusto de Campos

Não queiras ser mais vivo do que és morto.As sempre-vivas morrem diariamentePisadas por teus pés enquanto nasces.Não queiras ser mais morto do que és vivo.As mortas-vivas rompem as mortalhasMiram-se umas nas outras e retornam(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!)Para amassar o pão da própria carne.Ó vivo-morto que escarnecem as paredes,Queres ouvir e falas.Queres morrer …

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Cultura – Arnaldo Antunes

O girino é o peixinho do sapoO silêncio é o começo do papoO bigode é a antena do gatoO cavalo é pasto do carrapato O cabrito é o cordeiro da cabraO pescoço é a barriga da cobraO leitão é um porquinho mais novoA galinha é um pouquinho do ovo O desejo é o começo do …

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O pulso – Arnaldo Antunes

O pulso ainda pulsaO pulso ainda pulsa… Peste bubônicaCâncer, pneumoniaRaiva, rubéolaTuberculose e anemiaRancor, cisticercoseCaxumba, difteriaEncefalite, faringiteGripe e leucemia… E o pulso ainda pulsaE o pulso ainda pulsa Hepatite, escarlatinaEstupidez, paralisiaToxoplasmose, sarampoEsquizofreniaÚlcera, tromboseCoqueluche, hipocondriaSífilis, ciúmesAsma, cleptomania… E o corpo ainda é poucoE o corpo ainda é poucoAssim… Reumatismo, raquitismoCistite, disritmiaHérnia, pediculoseTétano, hipocrisiaBrucelose, febre tifóideArteriosclerose, miopiaCatapora, culpa, …

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Nome não – Arnaldo Antunes

os nomes dos bichos não são os bichoso bichos são:macaco gato peixe cavalomacaco gato peixe cavalovaca elefante baleia galinha os nomes das cores não são as coresas cores são:preto azul amarelo verde vermelho marrom os nomes dos sons não são os sonsos sons são só os bichos são bichossó as cores são coressó os sons …

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Fêmea-Fênix – Uncategorized

Para Léa Garcia  Navego-me eu–mulher e não temo,sei da falsa maciez das águase quando o receiome busca, não temo o medo,sei que posso me deslizarnas pedras e me sair ilesa,com o corpo marcado pelo olorda lama. Abraso-me eu-mulher e não temo,sei do inebriante calor da queimae quando o temorme visita, não temo o receio,sei que …

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Fêmea-Fênix

Para Léa Garcia  Navego-me eu–mulher e não temo,sei da falsa maciez das águase quando o receiome busca, não temo o medo,sei que posso me deslizarnas pedras e me sair ilesa,com o corpo marcado pelo olorda lama. Abraso-me eu-mulher e não temo,sei do inebriante calor da queimae quando o temorme visita, não temo o receio,sei que …

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Poesia Brasileira

Poetas mais acessados Abdias do Nascimento Adao Ventura Alberto de Oliveira Alphonsus de Guimaraens Álvares de Azevedo Augusto dos Anjos Carlos Drummond de Andrade Carolina Maria de Jesus Casimiro de Abreu Cecilia Meireles Clarice Lispector Cora Coralina Elizandra Souza Ferreira Gullar Goncalves Dias Hilda Hilst Joao Cabral de Melo Neto Jorge de Lima Manoel de …

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Música Brasileira

Artistas mais acessados Adoniran Barbosa Adriana Calcanhotto Alceu Valença Ana Carolina Anavitoria Armandinho Arnaldo Antunes Belchior Beto Guedes Caetano Veloso Capital Inicial Cartola Cassia Eller Cazuza Charlie Brown Jr Chico Buarque Chico Cesar Chico Science e Nação Zumbi Cidade Negra Clara Nunes Criolo Djavan Elis Regina Engenheiros do Hawaii Fagner Gal Costa Gabriel o Pensador …

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Noites cariocas

Sei que ao meu coração só lhe resta escolherOs caminhos que a dor sutilmente traçouPara lhe aprisionarNem lhe cabe sonhar com o que definhouVou me repreender pra não mais me envolverNessas tramas de amorEu bem sei que nós dois somos bem desiguaisPara que martelar, insistir, reprisar?Tanto faz, tanto fezEu por mim desisti, me cansei e …

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Força estranha

Eu vi o menino correndo eu vi o tempoBrincando ao redor do caminho daquele meninoEu pus os meus pés no riachoE acho que nunca os tireiO sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei Eu vi a mulher preparando outra pessoaO tempo parou pra eu olhar para aquela barrigaA vida é amiga da arteÉ …

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Tigresa

Uma tigresa de unhas negras e íris cor de melUma mulher, uma beleza que me aconteceuEsfregando a pele de ouro marromDo seu corpo contra o meuMe falou que o mal é bom e o bem cruel Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateuEla me conta sem certeza tudo o que viveuQue gostava de …

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Chuck berry fields forever

Trazidos d’África pra Américas de Norte e SulTambor de tinto timbre tanto tonto tom tocouE neve, garça branca, valsa do Danúbio AzulTonta de tanto embalo, num estalo desmaiou Vertigem verga, a virgem branca tomba sob o solRachado em mil raios pelo machado de XangôE assim gerados, a rumba, o mambo, o samba, o rhythm’n’bluesTornaram-se os …

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Atrás da Verde-e-Rosa só não vai quem já morreu (Samba enredo Mangueira 1994)

Me leva que eu vouSonho meuAtrás da verde-e-rosaSó não vai quem já morreuBahia é luzDe poeta ao luarMisticismo de um povoSalve todos orixásQuem me mandouEstrelas de láFoi São SalvadorPra noite brilharMangueira !Jogando flores pelo marSe encantou com a musaQue a Bahia dáObá berimbau ganzáÔ capoeiraJoga um verso pra iaiáCaetano e Gil ôCom a tropicália no …

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Flor de maracujá

Lá no avarandado na luz do meio diaO segredo dos teus olhos tanta coisa me diziaO cabelo solto ao vento, o teu jeito de olharE no teu corpo moreno, a flor de maracujáDia de Sol, cheiro de florGosto de mar, amorNa tua cor, luz do luarVento que vem do marRoda, gira vira o vento, meu …

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Índia (India)

Índia, seus cabelos nos ombros caídosNegros como a noite que não tem luarSeus lábios de rosa, para mim, sorrindoE a doce meiguice desse seu olhar Índia da pele morenaSua boca pequena eu quero beijar Índia, sangue tupiTens o cheiro da florVem, que eu quero lhe darTodo o meu grande amor Quando eu for embora para …

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Pérola negra

Tente passar pelo que estou passandoTente apagar este teu novo enganoTente me amar pois estou te amandoBaby te amo nem sei se te amoTente usar a roupa que estou usandoTente esquecer em que ano estamosArranje algum sangue escreva num panoPérola negra te amo, te amoRasgue a camisa enxugue meu prantoComo prova de amorMostre teu novo …

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Pedra, pau, espinho e grade

“No meio do caminho tinha uma pedra”,Mas a ousada esperançade quem marcha cordilheirastriturando todas as pedrasda primeira à derradeirade quem banha a vida todano unguento da corageme da luta cotidianafaz do sumo beberragemtopa a pedra pesadeloé ali que faz paradapara o salto e não o recuonão estanca os seus sonhoslá no fundo da memória,pedra, pau, …

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Todas as manhãs

Todas as manhãs acoito sonhose acalento entre a unha e a carneuma agudíssima dor. Todas as manhãs tenho os punhossangrando e dormentestal é a minha lidacavando, cavando torrões de terra,até lá, onde os homens enterrama esperança roubada de outros homens. Todas as manhãs junto ao nascente diaouço a minha voz-banzo,âncora dos navios de nossa memória.E …

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O vivo

Não queiras ser mais vivo do que és morto.As sempre-vivas morrem diariamentePisadas por teus pés enquanto nasces.Não queiras ser mais morto do que és vivo.As mortas-vivas rompem as mortalhasMiram-se umas nas outras e retornam(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!)Para amassar o pão da própria carne.Ó vivo-morto que escarnecem as paredes,Queres ouvir e falas.Queres morrer …

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Os buracos do espelho

o buraco do espelho está fechadoagora eu tenho que ficar aquicom um olho aberto, outro acordadono lado de lá onde eu caí pro lado de cá não tem acessomesmo que me chamem pelo nomemesmo que admitam meu regressotoda vez que eu vou a porta some a janela some na paredea palavra de água se dissolvena …

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Cultura

O girino é o peixinho do sapoO silêncio é o começo do papoO bigode é a antena do gatoO cavalo é pasto do carrapato O cabrito é o cordeiro da cabraO pescoço é a barriga da cobraO leitão é um porquinho mais novoA galinha é um pouquinho do ovo O desejo é o começo do …

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O pulso

O pulso ainda pulsaO pulso ainda pulsa… Peste bubônicaCâncer, pneumoniaRaiva, rubéolaTuberculose e anemiaRancor, cisticercoseCaxumba, difteriaEncefalite, faringiteGripe e leucemia… E o pulso ainda pulsaE o pulso ainda pulsa Hepatite, escarlatinaEstupidez, paralisiaToxoplasmose, sarampoEsquizofreniaÚlcera, tromboseCoqueluche, hipocondriaSífilis, ciúmesAsma, cleptomania… E o corpo ainda é poucoE o corpo ainda é poucoAssim… Reumatismo, raquitismoCistite, disritmiaHérnia, pediculoseTétano, hipocrisiaBrucelose, febre tifóideArteriosclerose, miopiaCatapora, culpa, …

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Nome não

os nomes dos bichos não são os bichoso bichos são:macaco gato peixe cavalomacaco gato peixe cavalovaca elefante baleia galinha os nomes das cores não são as coresas cores são:preto azul amarelo verde vermelho marrom os nomes dos sons não são os sonsos sons são só os bichos são bichossó as cores são coressó os sons …

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A Revoada Começou

O desespero do meu travesseiroVirou pesadelo, tem seu cheiro lá (tem seu cheiro lá)O meu espelho me chamou de feioGelado chuveiro tá sem funcionar (tá sem funcionar)Meu guarda roupa quebrou a portaMinha geladeira não tá cheia, nãoAs minhas roupas me ignoraMas se tu precisar voltar a luz vai tá acesaFecha a porta apaga a luz, …

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Caminhos do mar

Iemanjá, odoyáOdoyá, rainha do marIemanjá, odoyáOdoyá, rainha do mar O canto vinha de longeDe lá do meio do marNão era canto de genteBonito de admirar O corpo todo estremeceMuda a cor do céu, do luarUm dia ela ainda apareceÉ a rainha do mar Iemanjá, odoyáOdoyá, rainha do marIemanjá, odoyáOdoyá, rainha do mar Quem ouve desde …

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Reencarnação

Pai, criador do universoQuero lhe pedir perdãoPelos erros cometidosEspero não chamar seu nome em vão A gente aqui na Terra erraMuitas vezes sem razãoPeço ao CriadorQuero voltar na reencarnação Sei que vou subirMeu pensamento está na descidaEspero que o bom zambi me devolvaTudo de bom que tenho nesta vida O som do surdo e o …

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Eu vou pra lá

Eu vou pra láeu vou pra láai como é bompaulistano pra gente sambar Eu vou pra láeu vou pra láai como é bompaulistano pra gente sambar Minha escola é paulistanopequenina mais caminhaCamisa da Barra Fundaeis sim é nossa madrinha Eu sou filho de sambistae por isso vivo assimsempre cantando meu sambabatendo meu tamborim Eu vou …

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Tebas ”O Escravo” (Praça da Sé)

Tebas, negro escravoProfissão: AlvenariaConstruiu a velha SéEm troca pela carta de alforriaTrinta mil ducados que lhe deu padre JustinoTornou seu sonho realidadeDaí surgiu a velha SéQue hoje é o marco zero da cidadeExalto no cantar de minha genteA sua lenda, seu passado, seu presentePraça que nasceu do idealE braço escravoÉ praça do povoVelho relógio, encontro …

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Aleluia

Che Guevara não morreuNão, não morreu, AleluiaChe, eu creio no teu cantoComo um manto em minha dorE que todo desencantoseja ressuscitadorVejo o mundo divididoContenplando o reviverDa esperança que morriaNo silêncio do teu serChe Guevara não morreuNão, não morreu, AleluiaChe, eu creio seja eternaEsta rosa agreste e brancaBrotada no teu sorrisoQue nem mesmo a morte arrancaE …

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Barravento

Noite de breu sem luarLá vai saveiro pelo marLevando Bento e Chicão,Lá vai o pranto uma oraçãoSe barravento chegar,Não vai ter peixe pra venderFilho sem pai pra criar,Mulher viúva pra sofrer barraventoSalve mãe Iemanjá, barraventoNão deixe ele chegáNão leve o bom Chicão, barraventoSalve mãe IemanjáNão quero mais viver, JanaínaSe Bento não voltarMeu coração vai ser …

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Cafezinho

Minha vida foiCafezinhoFeito na horaQuentinhoDe incomparável saborUm café bem temperadoE recendendo a pecadoQuando achei meu amor Tinha doçura no olharNão se deixava tomarSem ser aos olhos de dorTinha no sangue a fervuraQue temperava em ternuraO cafezinho do amor Mas o que era póVoltou a póPelo o ventoLevou o seu devidoLugarDes de então minha vidaNão é …

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Buquê de Isabel

Casou Maria, com Zé casouJogou o bouquet, solteirona Isabel pegouIsabel, no seu quarto, sozinha e distante da genteChorando, desfolha um bouquet, Isabel Toda vez que uma amiga casavaComprava um vestido, se empoava pra verSe arranjava também casamentoPorque era um tormento viver sem ninguémMas o tempo passando esqueciaDe dar-lhe algum dia um noivo tambémE ela agora …

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Berekekê

Erumbekum BerekekêErumbekum Berekeká Há muitos sóis não te vejoMuitas luas não te beijoTantas estrelas queimandoNos mares do meu desejo Seja fruta todo açúcarE o amargor da realezaPelos ares semeandoEssa estranha natureza Erumbekum BerekekêErumbekum BerekekáAi ai ai belezaAi tambor(amor) ai padecerNão quero chamar em vãoOs nomes do meu querer Cocar de penas, morenaCoração flecha ligieraPrimeira missa …

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Chorando e cantando

Quando Fevereiro chegarSaudade já não mata a genteA chama continuaNo arO fogo vai deixar sementeA gente ri a gente choraa gente choraFazendo a noite parecer um diaFaz maisDepois faz acordar cantandoPra fazer e acontecerVerdades e mentirasFaz crerFaz desacreditar de tudoE depoisDepois amor ô, ô, ô, ô Ninguém, ninguémVerá o que eu sonheiSó você meu amorNinguém …

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Arraial dos tucanos

Arraial dos tucanosAté quando o homemQue da terra viveE que da vida arrancaO pão diárioVai ter tua pazPazAparentemente pazArraial dos tucanosMesmo assim louvaiToda freguesiaQue de longe vemQue pra longe vaiPelos seus caminhosPelos seus quintaisVeredas de espinhosPelos seus umbraisArraial dos tucanosVai Ter tua pazPazAparente pazPaz aparentemente paz

Planetário

Esperei no Planetário o meu amorEla foi ao analista e ainda não voltouEsperei no Planetário o meu amorEla foi ao analista e ainda não voltou São mil horas, mil estrelasQue nos separam delaO Cruzeiro do SulE essa super-novela Esperei no Planetário o meu amorEla foi ao analista e ainda não voltouEsperei no Planetário o meu …

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Meu sentido era na bela

Meu pai era buticárioTinha dinheiro na burraUm dia, deu-me uma surraMe botou num seminárioComprou logo um rosárioE, audispois, uma batinaDe fazenda muito fina Mas meu sentido era na Bela, ai aiFia da sinhá Barbina(Meu sentido era na Bela) hum hum(Filha da sinhá Barbina) Cheguei até istudáO ingrês e o francêsO latrim e o purtuguêsSempre gostei …

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Eu quero um samba

Eu quero um samba feito só pra mimMe acabar, me virar, me espalharEu quero a melodia feita assimQuero sambar, quero sambarQuero sambar por que no samba eu sei que vou Me acabar, me virar, me espalharA noite inteira até o Sol raiarAh quando o samba acabaEu fico triste entãoVai melancoliaEu quero alegria dentro do meu …

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Nó na madeira

Eu sou é madeiraEm samba de roda já dei muito nó…Em roda de samba sou considerado,De chinelo novo brinquei Carnaval, Carnaval. Eu sou é madeiraMeu peito é do povo do samba e da gente,E dou meu recado de coração quenteNão ligo a tristeza, não furo eu sou gente. Sou é a madeiraTrabalho é besteira, o …

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Minha missão

Quando eu cantoÉ para aliviar meu prantoE o pranto de quem jáTanto sofreuQuando eu cantoEstou sentindo a luz de um santoEstou ajoelhandoAos pés de DeusCanto para anunciar o diaCanto para amenizar a noiteCanto pra denunciar o açoiteCanto também contra a tiraniaCanto porque numa melodiaAcendo no coração do povoA esperança de um mundo novoE a luta …

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Matita Perê

Homenagem a (in honor of):Guimarães RosaCarlos Drummond de AndradeMario Palmério No jardim das rosasDe sonho e medoPelos canteiros de espinhos e floresLá, quero ver vocêOlerê, Olará, você me pegar Madrugada fria de estranho sonhoAcordou João, cachorro latiaJoão abriu a portaO sonho existia Que João fugisseQue João partisseQue João sumisse do mundoDe nem Deus achar, Ierê …

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Sagarana

A ver, no em-sidoPelos campos-claro: estóriasSe deu passado esse casoVivência é memóriaNos GeraisA honra é-que-é-que se aprazCada quãoSabia sua distinçãoVai que foi sobreEsse era-uma-vez, ‘sas passagensEm beira-riachoMorava o casal: personagensPersonagens, personagensA mulherTinha o morenês que se querVerdeolharDos verdes do verde invejarDentro lá delesDiz-que existia outro geraisQuem o qual, dono seuEsse era erroso, no à-ponto-de ser …

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Tô voltando

Pode ir armando o coretoE preparando aquele feijão pretoEu tô voltandoPõe meia dúzia de Brahma pra gelarMuda a roupa de camaEu tô voltando Leva o chinelo pra sala de jantarQue é lá mesmo que a mala eu vou largarQuero te abraçar, pode se perfumarPorque eu tô voltando Dá uma geral, faz um bom defumadorEnche a …

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Lamento do samba

Eu tenho saudadeDos sambas de antigamenteQuando o samba deixavaUma vaga tristezaNo peito da genteNão era amarguraE nem desventuraE nem sofrimentoEra uma nostalgiaEra melancoliaEra um bom sentimento. Nos dias de hojeO samba ficou diferenteNão tem mais dolênciaMudou a cadênciaE o povo nem senteSua melodiaÉ uma falsa alegriaQue passa com o ventoNinguém percebeuMas o samba perdeuSua voz …

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Viagem

Oh! tristeza me desculpeEstou de malas prontasHoje a poesiaVeio ao meu encontroJá raiou o diaVamos viajarVamos indo de caronaNa garupa leveDo vento macioQue vem caminhandoDesde muito longeLá do fim do mar Vamos visitar a estrelaDa manhã raiadaQue pensei perdidaPela madrugadaMas que vai escondidaQuerendo brincarSenta nessa nuvem claraMinha poesiaAnda se preparaTraz uma cantigaVamos espalhandoMúsica no ar …

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Retrovisor

Onde a máquina me levaNão há nadaHorizontes e fronteirasSão iguaisSe agora tudoQue eu mais queroJá ficou prá trás… Qualquer um que leva a vidaNessa estradaSó precisa de uma sombraPrá chegarA saudade vai batendoE o coração dispara… Mas de repenteA velocidade choraNão vejo a horaDe voltar prá casaA luz do teu olharNo fim do túnelE no …

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Sêca d’água

É triste para o Nordeste o que a natureza fezMandou cinco anos de seca e uma chuva em cada mêsE agora em 85 mandou tudo de uma vezA sorte do nordestino é mesmo de fazer dóSeca sem chuva é ruimMas seca d’água é piorQuando chove brandamente depressa nasce um capimDá milho, arroz e feijão, mandioca …

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Chega de mágoa

Nós não vamos nos dispersar Juntos, é tão bom saber Que passado o tormento Será nosso esse chão…1 Água, dona da vida Ouve essa prece tão comovida2 Chega, brinca na fonte Desce do monte, vem como amiga3 Te quero, água de beber Um copo d’água Marola mansa da maré Mulher amada Te quero orvalho toda …

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Letras negras

Pelo jornal o dia chegaCom as letras negrasDo que está por virPelo meu sonho era tudo bemVocê passava e olhava pra mimSeu olhar miragemSurgindo na paisagemDe fumaça e luzNo paraíso amor um diaImaginamos cidades azuis Oh meu amorMeu grande amorE agora Serenai! Serenai! Oh verde marA madrugada chegouComeça o dia você meIncendeiaAmor me incendeiaAté florescerE …

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Trilhas (traces)

traços de nanquimnão se apagam com o tempose era frágil assimporque é o mesmo sentimento ?trilhas que o amor deixa em nósquem vai silenciar nossa canção ?se você fingiunão ter volta essa viagemuma lágrima traiue escorreu na maquiagemtrilhas que o amor abre em nósquem vai poder fechar vem me guiarquando a noite caicartões postaisruas que …

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Baile de máscaras

Num baile de máscaras qualquerColombina e PierrôCansados de procuraremCada qual seu parSe convidaram pra dançarPra não assistir a noite passarDois velhos amigos a se consolaremDa solidão, mais uma vezRogando aos músicos que toquemAquelas canções todasDe recordações vivasBelos e jovensDe olhos fechados pelo salãoE quando a orquestra deu o finalNão se apartaramComo seria o costumeiro e …

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Loucas horas

Lembro de vocêDo seu cabelo ao ventoSua silhuetaAo fundo, nascer do sol Na nossa cançãoNada cansavaJá não sei viverNesse clima de suspense Quando vou te verE por quantas horas? Te quero, o mundoFica perfeito contigoNas poucasÀs loucas horas com vocêQue o sol queima a nossa face Lembro de vocêQuando estou longe de casaRoo as unhas …

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Devagarinho

Hoje você não me escapaVou te confessar que tu me deixa piradaProvavelmente você vemProvavelmente hoje tem Gosto dessa sua pegadaSó de olhar pra mim, você me deixa suadaÉ só chamar que você vemÉ só chamar A gente pega fogoSe entrega sem pensarTu beija meu pescoçoMe faz arrepiarTua mão pelo meu corpoAdora se perderNinguém faz mais …

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Ando jururu

E pensar que eu passei todo esse tempoInvestindo no meu know-howE pensar que eu quase me daneiApostando no meu background Eu ando jururuI don’t know what to doQuero encontrar pelo caminhoUm cogumelo de zebu E descansar os meus olhos no pastoDescarregar esse mundo das costasEu só quero fazer parte do backing vocalE cantar o tempo …

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Zen

Uhhh uhhh uhhhh uhhhh Olha, cê me faz tão bemSó de olhar teus olhos, baby, eu fico zenCoração acelerado a mais de cemJuro que eu não quero mais ninguémVocê me faz tão bem Olha, cê me faz tão bemSó de olhar teus olhos, baby, eu fico zenCoração acelerado a mais de cemJuro que eu não …

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Sim ou não

AjáAnitta, MalumaBrasil, Colombia Se quiser jogar, vemMas tem que arriscar, vemVai ser sim ou nãoOu não, ou não, não (ou não) Se quiser jogar, vemMas tem que arriscar, vemVai ser sim ou nãoOu não, ou não, não (ou não) Y tú lo sabesQue me gustas, daleMueve el cuerpo suavePa’ mí, así (yeh, yeh, yeh, yeh) …

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Remédio (tradução)

Eu não ligo se você tem dinheiroO que importa aqui é você saber se mexerNão se assuste se a roupa subirQuando você sentir o ritmo subindo pelos pés Não te entendo, mas dance comigo devagarPois os corpos, sim, se entendemTodo mundo fazendo o mesmo movimentoVamos, de novo e de novo Ta-ta-ta-tarará-ta-ta-tararáVa-va-vamos de novoTa-ta-ta-tarará-ta-ta-tarará Vamos pro …

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Pour Elis

Agora, o braço não é maisO braço erguido num grito de golAgora, o braço é uma linha, um traçoUm rastro espelhado e brilhanteO rascunho, de um rascunhoUma forma nebulosa, feita de luz e sombraComo uma estrela agora, sou uma estrela Agora retiram de mim a cobertura de carneEscorrem todo o sangueAfinam os ossos em fios …

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Tareco e Mariola

Eu não preciso de você,o mundo é grande o destino me espera,não é você que vai me dar na primaveraas flores lindas que sonhei no meu verão. Eu não preciso de você,já fiz de tudo pra mudar meu endereço,já revirei a minha vida pelo avesso,juro por Deus, não encontrei voce mais não. Cartas na mesa,bom …

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Bié bié Brazil

Bye bye Brasil, adeus Tanto faz se eu cantar em português ou inglês Pois se mudou foi Deus, foi Deus Salve a maravilha eletrônica Que já resolveu a fome crônica Mares de antenas de TV pelo país Tornam nosso índio mais alegre e mais feliz E ninguém segura esse milagre Até Frank Sinatra veio à …

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A vida do viajante

Minha vida é andar por este paísPra ver se um dia descanso felizGuardando as recordaçõesDas terras onde passeiAndando pelos sertõesE dos amigos que lá deixei Chuva e solPoeira e carvãoLonge de casaSigo o roteiroMais uma estaçãoE a alegria no coração Minha vida é andar por esse paísPra ver se um dia descanso felizGuardando as recordaçõesDas …

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Revólver

O meu revólverÉ um estado de espíritoE o pessimismoÉ luxo de quem tem dinheiro A covardiaImpera sob a ignorânciaMas a esperançaÉ substância pra mudar (é substância pra mudar)Mudar as coisas de lugar (mudar as coisas de lugar) Uma cidade tristeÉ fácil de ser corrompida (é fácil de ser corrompida)Uma cidade tristeÉ fácil ser manipulada No …

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Aburguesar

Meu bemTire a calcinhaAmorFeche a cortinaMeu bemVamos gemer gritandoNas ruas pelos pobresPelo dia que virá Depressa, porqueMeu bem, meu bem, meu bemDaqui a alguns anosVamos nos aburguesar ha, haDaqui a alguns anosVamos nos aburguesar ha, haDaqui a alguns anos, infelizmenteVamos todos nos aburguesar Os nossos ideais, que covardiaQue covardiaTrocados pelos sonhos da burguesiaA casa, o …

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Homem com H

Nunca vi rastro de cobraNem couro de lobisomemSe correr o bicho pegaSe ficar o bicho comePorque eu sou é homePorque eu sou é homeMenino eu sou é homeMenino eu sou é homeE como sou! Nunca vi rastro de cobraNem couro de lobisomemSe correr o bicho pegaSe ficar o bicho comePorque eu sou é homePorque eu …

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Sempre Ângela

Ah! Pela boca do auto-falantePara o mais variado e distanteCanto da cidade, a tua vozAh! Ninguém tinha o seu botãoAh! E aquela audição coletivaQue tornava pra nós bem mais viva a emoçãoEra você ou CaubyDe quem agora aquiOntem, hoje e amanhãSou eterno fã Ah! Despertar nos corações amantes a paixãoE naqueles instantesA felicidade era demaisAh! …

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Amanticida

A gente nasce, vai crescendo, crescendo…Até atingir a adolescência.Começa um fogo por dentro,Que vai queimando,E uma inexplicável e violentíssimaAtração pelo sexo oposto.Dai até a morte é um Deus-nos-acuda. Eu vivo tentando saberPor que teu bem-me-quer de mulherMe mata, e me acendeQuando você bem entende.Me arrasta daqui pra Bagdá.Me empurra pra lá, me puxa pra cá,Me …

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Nego Dito

Meu nome éBenedito João dos Santos Silva BeleléuVulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé Eu me invoco, eu brigoEu faço, eu aconteçoEu boto pra correrEu mato a cobra e mostro o pauPra provar pra quem quiser ver e comprovarMe chamo Benedito João dos Santos Silva BeleléuVulgo Nego Dito, Nego Dito cascavéBenedito João dos Santos Silva BeleléuVulgo …

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O linchador

Bati um pouco simO clima do momentoBati um pouco simO clima do momentoQualquer pai de família fariaAgora não seiQuase não encostei neleO pessoal barbarizou mesmoEle tava muito doidoEle tava muito doidoPodia matar qualquer um aliEu não linchei ninguém nãoQueria ver se fosse vocêPensa só na sua família na horaAcho que nem acertei eleAcho que nem …

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Jamais serão

Agora o quê?Então, do que se trataEu sei do que eu me tratoOlha em volta quanta gata, é fatoMuito além do pó no pratoFritar no quartoPoeira lunar no ar, espetacular, novatoA minha mente cria meu inferno e melodiaMinhas crias, meu caderno, beat quente, noite friaQuem diria, no meu terno predileto eu sou filmadoPuro dialeto no …

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