Não me pergunte por que
Quem-Como-Onde-Qual-Quando-O Que?
Deus, Buda, O tudo, O nada, O ocaso, O cosmo
Como o cosmonauta busca o nado, o nada
Seja lá o que for, já é
Não me obrigue a comer
O seu escreveu não leu
Papai mordeu a cabeça
Do Dr. Sugismundo
Porque sem querer cantou de galo
Cada cabeça é um mundo Gismundo
Antes de ler o livro que o guru lhe deu
Você tem que escrever o seu
Chega um ponto que eu sinto que eu pressinto
Lá dentro, não do corpo, mas lá dentro-fora
No coração e no sol, no meu peito eu sinto
Na estrela, na testa, eu farejo em todo o universo
Que eu to vivo
Que eu to vivo
Que eu to vivo, vivo, vivo como uma rocha
E eu não pergunto
Porque já sei que a vida não é uma resposta
E se eu aconteço aqui se deve ao fato de eu
simplesmente ser
Se deve ao fato de eu simplesmente
Mas todo mundo explica
Explica, Freud, o padre explica, Krishnamurti tá
vendendo
A explicação na livraria, que lhe faz a prestação
Que tem Platão que explica, que explica tudo tão bem vai lá que
Todo mundo explica
protestante, o auto-falante, o zen-budismo,
Brahma, Skol
Capitalismo oculta um cofre de fá, fé, fi, finalismo
Hare Krishna, e dando a dica enquanto aquele
papagaio
Curupaca e implica
Com o carimbo positivo da ciência que aprova
e classifica
O que é que a ciência tem?
Tem lápis de calcular
Que é mais que a ciência tem?
Borracha pra depois apagar
Você já foi ao espelho, não?
nego?
Então vá!
Letra Composta por:
Melodia Composta por:
Álbum:
Ano:
Estilo Musical:
Raul quando questionado sobre essa música, falou:
“Essa é uma pergunta que exige muita reflexão. Tem um livro meu de metafísica em que questiono a tese aristotélica das cinco perguntas básicas: porque, quem, onde, como, qual… Não existem perguntas porque não existem respostas. Não existem respostas porque não existem perguntas. Eu não pergunto absolutamente mais nada. As coisas são, e pronto. Nós seres humanos, somos verbos. Somos e estamos, é única coisa que a gente sabe. Conjecturar, quem há de? E é bonito assumir essa coisa de somente ser… Está todo mundo perguntando até hoje e ninguém tem resposta. Mas ser por ser é bom, torna a vida mais leve e menos violenta. Se todo mundo pensasse assim, as coisas certamente seriam mais fáceis….”
[]’
No filme “Raul Seixas – o início, o fim e o meio” Raul canta essa letra diferente, falando sobre o “cantor José Raimundo” no lugar de dr. sugismundo… Bom, quem é José Raimundo, Tom Zé?
tambem vi isso patrick, nao achei muita coisa que está naquele documentario 🙁
As tais questões existenciais que ocorrem a todos em diferentes fases da vida chegaram cedo para Raulzito: “Quem eu sou? De onde venho? Para onde vou? Quem criou o mundo? Deus existe? O que acontece depois da morte?”. Em 1978, compôs “Todo mundo explica”: “Explica Freud, o padre explica, Krishna vende a explicação na livraria, Platão explica, todo mundo explica, o protestante, o zen-budismo, Brahma, Hare Krisna”. Em 1989, sintetizou tudo na frase que é o subtítulo do livro “Metamorfose Ambulante: Vida, alguma coisa acontece; morte, alguma coisa pode acontecer”. Raulzito se foi, mas sua obra permanece graças à filosofia
A filosofia tem o poder de encantar algumas pessoas. Outras se transformam. No caso de Raul Seixas, ocorreu uma verdadeira metamorfose.
No início, a nossa pesquisa focou a influência da obra de Raul Seixas na Psicologia da morte, mas logo no seu primeiro trabalho topamos com uma frase que nos remetia a Schopenhauer. Na letra da música “Trem 103” Raul diz: “Quero voltar por onde eu vim/ Fecho meus olhos ao trilho sem fim/Oh 103 não me deixes aqui…” O filósofo alemão havia dito: “Vou terminar feliz, consciente de voltar por onde vim”.
Era cedo para afirmarmos que o baiano Raul Seixas teve como parceiro o filósofo Schopenhauer. Raul nunca o citou nominalmente. Na sua obra, encontramos muito do pensamento pré-socrático. Sócrates, Platão, Sartre e Nietzsche podem ser facilmente identificados no seu trabalho, o desafio era provar a presença de Schopenhauer.
Alguém sabe me dizer se o trecho a seguir é uma sátira as lacunas que a ciência não preenche?
“O que é que a ciência tem?
Tem lápis de calcular
Que é mais que a ciência tem?
Borracha pra depois apagar
Você já foi ao espelho, não?
nego?
Então vá!”
Obrigada.
Pra mim na ultima estrofe é claramente uma crítica a fé cega na ciência, que erra toda hora (borracha) e mesmo assim todo mundo acredita nela. E tem cara que critica a religião pra caramba, pq quem é crente acredita em tudo que a religião diz. Mas fazem isso com a ciência também (você já foi ao espelho nego? Não? Então vá.
Raul rejeita o método de Aristóteles por pensar que as respostas são tão dispensáveis quanto as perguntas quando se trata da vida humana. Como cosmonauta, isto é, explorador do universo, ele já está inserido em todas as possibilidades. A ênfase está no “agora”.
Rejeita também ideias fixas e engessadas. Quando cita Sigmund Freud (Dr. Don Sugismundo), teórico do inconsciente, fala sobre os boicotes e aversão à psicanálise, que revelou que existe um mundo em cada um, sugerindo uma liberdade ameaçadora aos modelos conservadores e que ganhou força na época da primeira guerra mundial, quando as ideias antissemitas estavam crescendo (Freud era judeu).
“Antes de ler o livro que o guru lhe deu você tem que escrever o seu”
significa não aceitar ideias ou doutrinas pré estabelecidas, e sim buscar o autoconhecimento.
Raul entende que é desnecessário buscar uma explicação pra nossa existência já que isso nos distrai do verdadeiro objetivo, que é viver.
No entanto, ao longo dos séculos diversas explicações surgiram por meio de inúmeros autores conhecidos, inclusive banalizando o tema da existência.
“O que é que a ciência tem?
Tem lápis de calcular
Que é mais que a ciência tem?
Borracha pra depois apagar”
Aqui Raul não desmerece a ciência, e sim aponta o fato de que ela não é inflexível, pois avança por meio de tentativa e erro, sem crises de ego e necessidade de uma verdade imutável.
“Você já foi ao espelho, não?
nego?
Então vá!”
Sugere que todos façamos uma reflexão em busca do autoconhecimento. Que, à exemplo da ciência, não devemos adotar modelos prontos de pensamento.
Quanto a quem perguntou sobre quem é o cantor “José Raimundo” da versão original (não censurada) da música, eu creio que seja uma referência ao cantor Raimundo Sodré, onde na música Propriedade Privada, canta: “Minha cabeça é minha, meu camarada
Cada cabeça é o centro do universo
Eu sou a minha propriedade privada “.
Trecho original: “O pau comeu na cabeça. Do cantor José Raimundo Porque sem querer falou no rádio que. Cada cabeça é um mundo, Raimundo!”
Impossível!!
A primeira aparição publicada desse cantor foi em 1980. E essa música, Propriedade Privada, foi escrita em 1983.