Análise de Letras

Eu Também Vou Reclamar

Mas é que se agora
Pra fazer sucesso
Pra vender disco
De protesto
Todo mundo tem
Que reclamar

Eu vou tirar
Meu pé da estrada
E vou entrar também
Nessa jogada
E vamos ver agora
Quem é que vai güentar

Porque eu fui o primeiro
E já passou tanto janeiro
Mas se todos gostam
Eu vou voltar

Tô trancado aqui no quarto
De pijama porque tem
Visita estranha na sala
Aí eu pego e passo
A vista no jornal

Um piloto rouba um "mig"
Gelo em Marte, diz a Viking
Mas no entanto
Não há galinha em meu quintal
Compro móveis estofados
Me aposento com saúde
Pela assistência social

Dois problemas se misturam
A verdade do Universo
A prestação que vai vencer
Entro com a garrafa
De bebida enrustida
Porque minha mulher
Não pode ver

Ligo o rádio
E ouço um chato
Que me grita nos ouvidos
Pare o mundo
Que eu quero descer

Olhos os livros
Na minha estante
Que nada dizem
De importante
Servem só prá quem
Não sabe ler

E a empregada
Me bate à porta
Me explicando
Que tá toda torta
E já que não sabe
O que vai dá prá mim comer

Falam em nuvens passageiras
Mandam ver qualquer besteira
E eu não tenho nada
Prá escolher

Apesar dessa voz chata
E renitente
Eu não tô aqui
Prá me queixar
E nem sou apenas o cantor

Que eu já passei
Por Elvis Presley
Imitei Mr. Bob Dylan, you know...
Eu já cansei de ver
O Sol se pôr

Agora eu sou apenas
Um latino-americano
Que não tem cheiro
Nem sabor

E as perguntas continuam
Sempre as mesmas
Quem eu sou?
Da onde venho?
E aonde vou, dá?

E todo mundo explica tudo
Como a luz acende
Como um avião pode voar
Ao meu lado um dicionário
Cheio de palavras
Que eu sei que nunca vou usar

Mas agora eu também resolvi
Dar uma queixadinha
Porque eu sou um rapaz
Latino-americano
Que também sabe
Se lamentar

E sendo nuvem passageira
Não me leva nem à beira
Disso tudo
Que eu quero chegar
-E fim de papo!

Comentários

Luiz Lima

16/05/2012

Sim, uma analise bem objetiva, mto bom. Mas penso que na musica, assim como em qualquer forma de arte, a mensagem se apresenta, para o público espectador, principalmente, de forma subjetiva..., seguindo nessa analise objetiva, penso que a mensagem expressa a 'subjetividade das justa e coerente interpretação pessimista' de Raul diante das atuais "transformações da sociedade contemporânea" (de sua época no caso). Transformações sociais que se realizam e manifestam, principalmente no individuo e no senso comum (instalado na sociedade em questão). O individuo é educado à agir quase sempre de forma padrão, que no caso da sociedade capitalista contemporânea é priorizando o dinheiro/capital depois o restante do que seja lá o que for e, no caso dessa musica, é o velho caso de sempre da industria cultural buscar fabricar um padrão de produto ou tipo/estilo/formula de musica que seja rentável, no máximo..., agradando("minimamente possível ao individuo.., de forma reduzida o que realmente importa, seja no aspecto artístico, de conhecimento ou apenas informação objetiva") a todos de uma vez, de forma minimamente possível, uma das principais práticas da industria cultural e do capitalismo, principalmente com a influencia exercida da tecnologia e meios de comunicação da época que, no caso dos anos 70 em questão, apesar de primitivos eram também altamente lucrativos, com noticias sempre fúteis e tendenciosas, principalmente para o lado do lucro financeiro próprio em nível máximo, e não em prol do espectador em seus vários gêneros sociais..., fabricam a noticia com formulas de conteúdos padrões de todas as especialidades e espalham para o máximo de população, que recebe a informação toda fabricada apenas para o entretenimento descartável e nada mais..., sociedade e individuo continua confuso, sem respostas, e, com todo direito, quer reclamar, ou as vezes, fazer uso de substancias que alteram a consciência para fugir da realidade". E ai, toda essa realidade, pratica e racional e conveniente dessa sociedade atual entra em paralelo com perguntas atemporais e filosóficas de todas as sociedades já existente e se misturam na cabeça do individuo pensante, e ele quer reclamar/reivindicar, e, nessa musica, Raul expressa vários motivos que abre pra mais vários outras reclamações sociais e individuais justas, mas no caso da arte, Raul expressa de modo geral que nem sempre só reclamar é a coisa mais justa com o espectador. Por fim, Raul se exalta apenas como ser humano/individuo pensante comum e, sobre a talvez maior influencia da sociedade contemporânea..., a influencia de que devemos aceitar tudo "como nuvem passageira", Raul reclama, se queixa, se lamenta e se nega a aceitar tudo sem a opção de escolha...

0
0

é po

17/02/2012

épo ta ligado !

0
0

Marcelo

20/01/2012

Sim, em alguns trechos ele realmente coloca uma critica em alguns dos cantores e compositores da época Primeiro, Ele percebe que estava dando resultado reclamar "Mas se todos gostam Eu vou voltar" Nessa parte é engraçado a entonação que ele passa, lembra do (Juca Chaves) "Me aposento com saúde Pela assistência social" - é obvio que é uma critica ao INSS, pode ser que rolavam na época de pessoas se aposentarem burlando a lei (Jovens com Saúde) Com esses problemas misturando-se na cabeça dele, como ele iria raciocinar a filosofia do mundo "A verdade do Universo e A prestação que vai vencer" - Truque do sistema, para escravizar o povo, que precisa pensar primeiro em seus problemas mais graves antes de criticar o gov. O "chato Que me grita nos ouvidos" era o radialista (Ze Betio) de um programa da época que fazia um fuzuê danado, batia panelas e tal, que falava: "Acorda! Joga agua fria nele" "Acorda Gordo, Acorda Gorda" "Falam em nuvens passageiras" musica certinha e poetica da mpb (Kleiton e Kledir) que ele era obrigado a ouvir no rádio no lugar da musica dele que era critica social "E nem sou apenas O CANTOR" Crítica à Belchior com Um rapaz latino americano (Era musica de critica social tbm) mas Raul era bem mais que apenas Um Cantor, ele era uma esperança tbm E pra finalizar com chave de ouro, td que ele não tinha espaço e nem tempo pra falar "Não me leva nem à beira Disso tudo Que eu quero chegar" GENIAL !!!

0
0

Pablo

13/09/2011

Penso que ele fala dos cantores e compositores da época, que criticavam o governo da época em suas cançoes. "Porque eu fui o primeiro e já passou tanto janeiro Mas se todos gostam eu vou voltar" Nessa estrofe, acredito que seja na época em que ele foi exilado do pais, mas devido ao grande sucesso do álbum Gitã ele acabou voltando. "Um piloto rouba um “mig”, Gelo em Marte, diz a Viking Mas no entanto não há galinha em meu quintal" Na época, problemas como a fome e a miséria assim como tantos outros problemas do pais eram ocultados na midia por noticias futeis, desviando olhares da população. Ele tambem fala de seu vicio alcoólico que mais tarde o levaria a morte. "Ligo o rádio e ouço um chato que me grita nos ouvidos" Desconfio que ele quer dizer dos governantes que iam para as radios fazer aqueles discursos gritados, tentando chamar a atenção do publico. "Olhos os livros na minha estante(...)Servem só pra quem não sabe ler" Raul gostava mto de ler, porém a ditadura na época censurava tudo, e os livros que eram permitidos não trazia conhecimento para a população. Eram apenas livros inuteis. Bom, ja ta ficando extenso demais, só vou comentar de mais um ponto interessante Quando ele fala do dicionário, penso que seja da censura nos meios de comunicação, e ate no dialogo das pessoas... Tudo era controlado Espero que tenham gostado!

0
0

Renato Gomes

08/08/2011

Mas é que se agora Pra fazer sucesso Pra vender disco De protesto Todo mundo tem Que reclamar NESSE TRECHO ELE FALA Q MUITOS ARTISTAS NA EPOCA DA DITADURA NÃO FALAVAM DA DITADURA APENAS POR SER CONTRA ELA E SIM PORQUE FAZENDO ISSO ELES CONSEQUIAM VENDER MAIS DISCOS Tô trancado aqui no quarto De pijama porque tem Visita estranha na sala Aí eu pego e passo A vista no jornal A "VISITA ESTRANHA NA SALA" SE REFERE PROVAVELMENTE A ALGUM ENVIADO DO GOVERNO, ENTÃO ELE PASSA A VISTA NO JORNAL PRA SABER SE TEM ALGUMA COISA ESCRITA SOBRE ELE

0
0