Mitologia Gerimum

Vou, vou, vou voltar
Prá casa de novo

Eu tivo que vir só
Não pude trazer você comigo
Às vezes eu me sinto
Um exilado político
Por ser um gabirú
Não tão lesado assim
Gabirú, gabirú, gabirú eh!

Vou, vou, vou voltar
Prá casa de novo

Troquei poeira por fuligem
Fiz um pacto em São Cristóvão
O couro da zabumba
Guarda um pedaço

Do dia em que o suor virar alegria
E os olhos tocarem na mãe
Brincando de aliviar
Um pouco do tempo que se foi

A um passo do precipício
A verdade é tão dura
Quanto o azulão contou
E se eu pensar no toque
Valeu a pena

Vale o meu corpo vira-latas
Mais forte do que
Muito homem de pedigree
Vale um copo de cachaça
Pago de maneira decente

Vale a fé que freqüenta
A mitologia gerimum
De Padre Cícero a Frei Damião
Porque nem a segunda casa
É capaz de sarar
As lembranças do chão
Que me fez
Do chão seco e ingrato
Mas o chão que me fez

Vou, vou, vou voltar
Pra casa de novo


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5 comentários em “Mitologia Gerimum”

  1. Iago Freitas

    “Vou, vou, vou voltar
    Prá casa de novo”

    Tá na cara que é um cara que morava em uma cidade e se mudou, mas se arrependeu e quer voltar.. típico de nordestinos que vão a sao paulo em busca de emprego e melhores condições de vida

    “Eu tivo que vir só
    Não pude trazer você comigo
    Às vezes eu me sinto
    Um exilado político”

    Tinha sua mulher, mas teve que partir só. E lá se sente um estranho, fora de casa, como se tivesse sido expulso da sua terra, sem poder/conseguir voltar. Um exilado político

    “Por ser um gabirú
    Não tão lesado assim
    Gabirú, gabirú, gabirú eh!”

    Um gabirú é um rato, e é assim que ele se sente longe de casa.

    “Troquei poeira por fuligem”

    Tava em condições ruins onde morava, saiu pra tentar melhorar, mas tá na mesma ou até pior. Trocou 6 por meia dúzia, poeira por fuligem.

    “Fiz um pacto em São Cristóvão
    O couro da zabumba guarda um pedaço
    Do dia em que o suor virar alegria
    E os olhos tocarem na mãe
    Brincando de aliviar
    Um pouco do tempo que se foi”

    São cristovão é o santo dos viajantes e ele fez uma promessa caso voltasse a sua terra próspero (“do dia em que o suor virar alegria”), encontrasse sua mãe e esse seria o alívio, esquecendo tudo que passou. O couro da zabumba seriam lembranças do nordeste.

    “A um passo do precipício
    A verdade é tão dura
    Quanto o azulão contou
    E se eu pensar no que
    Valeu a pena”

    Aqui ele pensa em se suicidar, pensando no que todos diziam quando ele resolveu partir, que ele fracassaria sendo parecia ser uma verdade dura de se ver.

    “Vale o meu corpo vira-latas
    Mais forte do que
    Muito homem de pedigree
    Vale um copo de cachaça
    Pago de maneira decente”

    Mas aqui ele desiste, vendo que ele valia muito pra se ‘jogar fora’, mais do que muito homem fino e que não vale nada, pois pagava sua contas com o suor do seu trabalho, diferente de muitos corruptos. Mais vale um copo de cachaça comprado decentemente do que uma mansão comprada com dinheiro sujo.

    “Vale a fé que freqüenta
    A mitologia gerimum
    De Padre Cícero a Frei Damião
    Porque nem a segunda casa
    É capaz de sarar
    As lembranças do chão que me fez
    Do chão seco e ingrato
    Mas o chão que me fez”

    essa parte é auto-explicativa

    show demais!! os caras são fodaass! O RAPPA!!

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  2. Você percebe como o cara consegue retratar de maneira tão penetrante a realidade de um retirante do nordeste e entende que ele só pode ter convivido com essa realidade de perto ou vivido na pele para conseguir tamanha profundidade.

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