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Lama

Era só mais um peixe
Era só mais um rio
Água deu lugar pra lama
Tá tudo vazio
Perder de tudo é duro
É chão, é arribação
Cavar tudo de novo

É lama, é barro, é doce, é mancha, é sangue, é feto

Fincapé, é oração

É lama, é barro, é doce, é mancha, é sangue, é feto
É sede, é mato, é fome, é mãe, é tudo quieto
É lama, é barro, é doce, é mancha, é sangue, é feto
É sede, é mato, é fome, é mãe, é tudo quieto

É lama, é barro, é doce, é mancha, é sangue, é feto
É sede, é mato, é fome, é mãe, é tudo quieto
É lama, é barro, é doce, é mancha, é sangue, é feto
É sede, é mato, é fome, é mãe, tudo quieto

Quem vai pagar as contas?
Plantar com a mão os pés
Regar mananciais
E a vida desses outros animais
Quem vai pagar as contas?
Plantar com a mão os pés
Regar mananciais

E a vida desses outros
Pra descer todo santo ajuda
Assumir de quem é a culpa
Água é vida mas mata
Toda mata devasta
Pra descer todo santo ajuda
Assumir de quem é a culpa
Água é vida mas mata
Toda mata devasta
Pra descer todo santo ajuda
Assumir de quem é a culpa
Água é vida mas mata
Toda mata devasta

Quem vai pagar as contas?
Plantar com a mão os pés
Regar mananciais
E a vida desses outros animais
Quem vai pagar as contas?
Plantar com a mão os pés
Regar mananciais

E a vida desses outros
E a vida desses outros animais
E a vida desses outros animais
Vida desses outros animais
E a vida desses outros

Vila Vintém

Cara para com isso
É o meu trabalho, o meu ofício
Minha senhora, minha guarita
O meu salário, minha marmita

O meu casaco em nome do santo
O meu boné que era inteiro branco

Tira essa pata do meu barraco
Eu tenho nervos eu não sou de aço
É isso mesmo a nossa herança?
Esse trabuco, minhas crianças?
Eu sinto asco da tua farda
Me diz se dorme quando o dia acaba

Eu só queria saber
Como segue essa cena depois que eu desligo a tv
Novela da vida real que não paga cachê

Mas o que temos com isso, né galega?
É um horror tudo isso, né princesa?
Já abri uma conta na gringa, tá meu dengo?
Vamos mudar de país

Cara já não me importa
Teu Deus não vai passar da minha porta
Tu já deu cabo da minha alma e agora quer levar a minha calma

O meu casaco em nome do santo
O meu boné que era inteiro branco
Tira essa pata do meu barraco
Eu tenho nervos eu não sou de aço
É isso mesmo a nossa herança?
Esse trabuco, minhas crianças?
Eu sinto asco da tua farda
Me diz se dorme quando o dia acaba

Eu só queria saber
Como segue essa cena depois que eu desligo a tv
Novela da vida real que não paga cachê

Mas o que temos com isso, né galega?
É um horror tudo isso, né princesa?
Já abri uma conta na gringa, tá meu dengo?
Vamos mudar de país

O meu casaco em nome do santo
O meu boné que era inteiro branco
Tira essa pata do meu barraco
Eu tenho nervos eu não sou de aço
É isso mesmo a nossa herança?
Esse trabuco, minhas crianças?
Eu sinto asco da tua farda
Me diz se dorme quando o dia acaba

Espia escuta

Ela trabalha e cria as cria
Sozinha ou acompanhada
Sai do trampo pra noitada
Natural ou maquiada
Ela quem banca o seu cabelo, unha, roupa, batom, balada
Dá em qualquer posição, cansou de ser renegada
É a mulherada ficando embucetada

Eu disse
Espia, escuta
Na esquina, na calçada
É a mulherada ficando embucetada

Eu disse
Espia, escuta
Na esquina, na calçada
É a mulherada ficando embucetada

Ela é profissional do sexo, presidenta, empregada
Transa Bi, Homem, Mulher Trans Travesti ta elevada
Prefere uma siririca à macho escroto de balada
Essa é a mulher do futuro, e vem viado
Porque é a mulherada ficando embucetada

Espia, escuta
Na esquina, na calçada
É a mulherada ficando embucetada

Me representam as bucetas
Nada contra os bilaus
Mas hoje o beijo vai pro cu
E seu poder sensacional
Todo mundo tem
É consenso geral
Curirica representa igualdade mundial
Porque é a mulherada ficando embucetada

Espia, escuta
Na esquina, na calçada
É a mulherada ficando embucetada

Pergunta pro pai, pro avô e pro teu tio
Porque homem maltrata o ventre que lhe pariu
Feminino não criou bomba nem guerra nem fuzil
Então porque o homem mata o ventre que lhe pariu
E agora a mulherada esta ficando embucetada

Espia, escuta
Na esquina, na calçada
É a mulherada ficando embucetada

Eu disse
Espia, escuta
Na esquina, na calçada
É a mulherada ficando embucetada

Mulamba

Eu sou o mastro da bandeira da revolução
Os restos do cavalo de Napoleão
Eu sou a brasa que matou Joana d’Arc
As 5 balas de John Lennon, reles cidadão

O lixo humano, escória da sociedade
Sou o que como e quem eu deixo de comer
Nasci do limbo e bailei pra essa cidade
Sou quem dá vida aos monstros que eu quero ter

Você vai lembrar quando eu te olhar lá de cima
Vai reconhecer e vai respeitar minhas cinzas

Eu sou aquilo que ninguém mais acredita
Eu sou a puta, eu sou a santa e a banida
Sou a bravura e os surtos de Anita Garibaldi
Bandeira baixa ou bandeira que agita

Sou como rua, beco podre da cidade
Eu sou os filhos mal paridos da nação
Sou a coragem até no grito dum covarde
O que não basta, não se entende, eu sou um furacão

Você vai lembrar quando eu te olhar lá de cima
Vai reconhecer e vai respeitar minhas cinzas

Agora o meu papo vai ser só com a mulherada
“Nós não é” saco de bosta pra levar tanta porrada
Todo dia umas 10 morrem, umas 15 são estupradas
Fora as que ficaram em casa e por nada são espancadas

Qual que é o teu problema? É fé pequena ou mente ruim?
Quem foi que te ensinou a tratar as muié assim?
Agora fica esperto porque a coisa vai mudar
Se for tirar farinha com as mulher, pode apanhar!

Você vai lembrar quando eu te olhar lá de cima
Vai reconhecer e vai respeitar minhas cinzas

P.U.T.A.

Renasci foi das cinzas das guerreiras
Pela mesma missão que me desfez
vê meu corpo no chão mais uma vez
Reforçando o poder da terra santa
Pois quem queima em seu solo depois planta
Da lugar pra raiz vingar sua fruta
Que a floresta e a mata tão na luta
Se curando na voz da bezendera
Minhas vestes é mulamba
E as feiticeiras, são as mesmas que hoje chamam P.U.T.A

Ontem desci no ponto ao meio dia
Contramão me parecia
Na cabeça a mesma reza
Deus, que não seja hoje o meu dia
Faço a prece e o passo aperta
Meu corpo é minha pressa
Ouviu-se um grito agudo engolido no centro da cidade
E na periferia? Quantas? Quem?
O sangue derramado e o corpo no chão
Guria

Por ser só mais uma guria
Quando a noite virar dia
Nem vai dar manchete (nem vai dar manchete)
Amanhã a covardia vai ser só mais uma que mede, mete, e insulta
Vai filho da puta

Painho quis de janta eu
Tirou meus trapos, e ali mesmo me comeu
De novo a pátria puta me traiu
E eu sirvo de cadela no cio

E eu corro (eu corro)
Pra onde eu não sei (pra onde eu não sei)
Socorro (socorro)
Sou eu dessa vez (sou eu dessa vez)

E eu corro (eu corro)
Pra onde eu não sei (pra onde eu não sei)
Socorro (socorro)
Sou eu dessa vez (sou eu dessa vez)

Hoje me peguei fugindo
E era breu, o sol tinindo
Lá vai a marionete
Nada que hoje dê manchete

(E ainda se escuta)

A roupa era curta
Ela merecia
O batom vermelho
Porte de vadia
Provoca o decote
Fere fundo o forte
Morte lenta ao ventre forte

Eu às vezes mudo o meu caminho
Quando vejo que um homem vem em minha direção
Não sei se vem de rosa ou espinho
Se é um tapa ou carinho
O bendito ou agressão

E se mudasse esse ponto de vista
E o falo fosse a vítima
O que o povo ia falar?
Trocando, assim, o foco da história
Tirando do homem a glória
De mandar nesse lugar

Socorro tô num mato sem cachorro
Ou eu mato ou eu morro
E ninguém vai me julgar

E foda-se se me rasgar a roupa
Te arranco o pau com a boca
E ainda dou pra tu chupar

Pra ver como é severo o teu veneno
Eu faço do mundo pequeno
E Deus permita me vingar
E Deus permita me vingar
E Deus permita me vingar

E eu corro
Pra onde eu não sei (pra onde eu não sei)
Socorro
Sou eu dessa vez

Morreu na contramão atrapalhando o sábado
(Pra onde eu não sei)
Agonizou no meio do passeio público
(Sou eu dessa vez, e eu corro)
Morreu na contramão como se fosse máquina
(Pra onde eu não sei, socorro)
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
(Sou eu dessa vez)
Amou daquela vez como se fosse última
(Pra onde eu não sei, socorro)
Amou daquela vez como se fosse a máquina
(Sou eu dessa vez)