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Boteco do Arlindo

Gripe cura com limão, jurubeba é pra azia
Do jeito que a coisa vai, boteco do Arlindo vira drogaria
O médico tava com medo que o meu figueiredo não andasse bem
Então receitou jurubeba, alcachofra e de quebra carqueja também
Embora fosse homeopatia a grana que eu tinha era só dois barão
Mas o Arlindo é pai d’égua, foi passando a régua, eu fiquei logobão

Tem vinho pra conjuntivite, licor pra bronquite, cerveja pros rins
Traçados e rabos-de-galo pra todos os males e todos os fins
O Juca chegou lá no Arlindo se desmilingüindo, querendo apagar
Tomou batida de jambo, recebeu o rango e botou pra quebrar

Batida de erva-cidreira se der tremedeira ou palpitação
Pra quem tá doente do peito faz um grande efeito licor de agrião
E toda velhice se acaba se der catuaba prum velho tomar
Meu Tio bebeu lá no Arlindo e saiu tinindo pra ir furunfar

Nó na madeira

Eu sou é madeira
Em samba de roda já dei muito nó…
Em roda de samba sou considerado,
De chinelo novo brinquei Carnaval, Carnaval.

Eu sou é madeira
Meu peito é do povo do samba e da gente,
E dou meu recado de coração quente
Não ligo a tristeza, não furo eu sou gente.

Sou é a madeira
Trabalho é besteira, o negócio é sambar
Que samba é ciência e com consciência
Só ter paciência que eu chego até lá…

Refrão
Sou nó na madeira
Lenha na fogueira que já vai pegar
Se é fogo que fica ninguém mais apaga
É a paga da praga que eu vou te rogar

Minha missão

Quando eu canto
É para aliviar meu pranto
E o pranto de quem já
Tanto sofreu
Quando eu canto
Estou sentindo a luz de um santo
Estou ajoelhando
Aos pés de Deus
Canto para anunciar o dia
Canto para amenizar a noite
Canto pra denunciar o açoite
Canto também contra a tirania
Canto porque numa melodia
Acendo no coração do povo
A esperança de um mundo novo
E a luta para se viver em paz!

Do poder da criação
Sou continuação
E quero agradecer
Foi ouvida minha súplica
Mensageiro sou da música
O meu canto é uma missão
Tem força de oração
E eu cumpro o meu dever
Há os que vivem a chorar
Eu vivo pra cantar
E canto pra viver

Quando eu canto, a morte me percorre
E eu solto um canto da garganta
Que a cigarra quando canta morre
E a madeira quando morre, canta!

Súplica

O corpo a morte leva
A voz some na brisa
A dor sobe pr’as trevas
O nome a obra imortaliza
A morte benze o espírito
A brisa traz a música
Que na vida é sempre a luz mais forte
Ilumina a gente além da morte
Vem a mim, oh, música
Vem no ar
Ouve de onde estás a minha súplica
Que eu bem sei talvez não seja a única
Vem a mim, oh, música
Vem secar do povo as lágrimas
Que todos já sofrem demais
E ajuda o mundo a viver em paz

Poder da criação

“a música me ama, ela me deixa fazê-la. A música é uma estrela, deitada na minha cama. Ela me chega sem jeito, quase sem eu perceber. Quando dou conta e vou ver, ela já entrou no meu peito. No que ela entra a alma sai, fica meu corpo sem vida. Volta depois comovida, e eu nunca soube aonde vai. Meu olho dana a brilhar. Meu dedo corre o papel. E a voz repete o cordel que se derrama no olhar. Fico algum tempo perdido até me recuperar, quase sem acreditar se tudo teve sentido. A música parte e eu desperto pro mundo cruel que aí está. Com medo de ela não mais voltar. Mas ela está sempre por perto. Nada que existe é mais forte e eu quero aprender-lhe a medida, de como compõe minha vida, que é para eu compor minha morte”

Não, ninguém faz samba só porque prefere
Força nenhuma no mundo interfere
Sobre o poder da criação
Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito
Nem se refugiar em lugar mais bonito
Em busca da inspiração

Não, ela é uma luz que chega de repente
Com a rapidez de uma estrela cadente
E acende a mente e o coração
É, faz pensar
Que existe uma força maior que nos guia
Que está no ar
Vem no meio da noite ou no claro do dia
Chega a nos angustiar
E o poeta se deixa levar por essa magia
E um verso vem vindo e vem vindo uma melodia
E o povo começa a cantar!

Serei teu ioiô

Serei seu Iô Iô
Tu serás minha Iá Iá
A vida feliz bem longe daqui
Iremos gozar
Mas tem duas coisas
Que podem impedir
E tu a sorrir me perguntarás
Meu bem que será?
Ora, eu que bem sei
Te responderei
A sombra da inveja meu bem
Ou golpe de azar

A vida está infestada de gente maldosa
Além de tudo invejosa
Não podem ver um casal ser feliz
Vamos viver meu amor nesse mar de rosas
Deixe essa gente invejosa
O nosso amor tem raiz
Deus o nosso criador
Vai nos livrar desse mal
Todos sabemos que a inveja
É um veneno mortal
Vamos pra longe daqui
Nossos prazeres gozar
Sem temer a inveja e o golpe de azar

O passado da Portela

(lá lalaiá laiá lalaiá lalaiá laiá)

Um dia um portelense de outrora
Transbordante de alegria,
Proferiu em linhas de um samba comovente
Que deixou muita saudade na gente.

Quero referir-me àquele avante
Frase bem interessante,
Quando o ideal é conquistar
Vitória retumbante.

Alertando a mocidade
Com palavras que estão na memória,
O passado da Portela
É coberto de vitória.

O que nos vale é a fé
Que encoraja e conduz,
Portelense de verdade
Que defende Oswaldo Cruz. (2x)

(lá lalaiá laiá lalaiá lalaiá laiá)

Amor de malandro

Se você gostou de mim
Por que quis
Já sabia quem eu era
Todo mundo diz
Hoje quer me culpar
Dizendo-me ter amizade
Sabe que um malandro
Quando ama deixa saudade
Você não foi meu primeiro amor
Nem tão pouco segundo
A sentir saudade nesse mundo
Mas alguém está sentindo
Quero morrer
Se acaso estou mentindo

Além do espelho

Quando eu olho o meu olho além do espelho
Tem alguém que me olha e não sou eu
Vive dentro do meu olho vermelho
É o olhar do meu pai que já morreu
O meu olho parece um aparelho
De quem sempre me olhou e protegeu
Assim como meu olho dá conselho
Quando eu olho no olhar de um filho meu

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor do meu pai não se perdeu
Só de olhar teu olhar sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi embora no cortejo
E no espelho eu chorei porque doeu
Só que vendo o meu filho agora eu vejo
Ele é o espelho do espelho que sou eu

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos têm qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão do meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se meu pai foi o espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu