Paradoxo

Em nome da segurança;
Nós nos refugiamos.
Em condomínios fechados.
Cada um no seu quadrado.

Somos sempre vigiados.
Câmeras por todos os lados.
Nos muros arame farpado.
Cada um no seu quadrado.

Somos monitorizados.
Por alguém terceirizado.
Que nem sabemos o nome.
Cada um no seu quadrado.

Todos nos encontramos;
Na escada e elevador.
Olhamos pro chão ou pro lado.
Cada umno seu quadrado.

Dividimos as despesas;
Sem saber quem mora ao lado.
Não dividimos amor.
Não fazemos favor.
Cada um no seu quadrado.

Pelas portas e nos portões;
Nos cruzamos todo dia.
E nem sequer nos saudamos;
Às vezes um bom dia rosnado;
Automaticamente,
Sem importar realmente;
Cada um no seu quadrado.

Temos centenas de amigos.
Quase todos virtuais.
Mas na parede ao lado;
Não ouvimos os ais;
De alguém agoniado;
Sózinho, desesperado;
Cada um no seu quadrado.

E no salão social;
Festas que lembram velório.
Meia dúzia de parentes;
E a panelinha do escritório;
O vizinho não é convidado;
Mesmo que more ao lado;
Cada um no seu quadrado.

E os empregados humildes;
Trabalham sempre calados.
Passamos por eles sem ver;
Sem nunca ter perguntado;
Sem nunca querer saber;
Como vai meu irmão?
Cada um no seu quadrado.


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