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Não tá mais de graça

A perna treme
Parece vídeo game
É uma poça de sangue no chão
E o nego geme

Eu me pergunto: onde essa porra vai parar?
Revolução, só Che Guevara de sofá

A carne mais barata do mercado
não tá mais de graça
O que não valia nada agora vale uma tonelada
A carne mais barata do mercado
não tá mais de graça
Não tem bala perdida, tem seu nome
é bala autografada

Prepara o coração que eu vou escurecer
E pode dar piripaque
Do Big ao Tupac
Marielle Franco, Rosa Parks
Destrava a corrente, sai fora da foice
Mongobe Bernard Ramose

Essa aqui Neymar não dança na hora de meter gol
Mas os pretos avançam, Wakanda forever yo!

Na pele

Olhe dentro dos meus olhos
Olhe bem pra minha cara
Você vê que eu vivi muito
Você pensa que eu nem vi nada

Olhe bem pra essa curva
Do meu riso raso e roto
Veja essa boca muda
Disfarçando o desgosto

A vida tem sido água
Fazendo caminhos esguios
Se abrindo em veios e vales
Na pele leito de rio

A vida tem sido água
Fazendo caminhos esguios
Se abrindo em veios e vales
Na pele leito de rio

Contemple o desenho fundo
Dessas minhas jovens rugas
Conquistadas a duras penas
Entre aventuras e fugas

Observe a face turva
O olhar tentado e atento
Se essas são marcas externas
Imagine as de dentro

A vida tem sido água
Fazendo caminhos esguios
Se abrindo em veios e vales
Na pele leito de rio

A vida tem sido água
Fazendo caminhos esguios
Se abrindo em veios e vales
Na pele leito de rio

A vida tem sido água
Fazendo caminhos esguios
Se abrindo em veios e vales
Na pele leito de rio

(Leito de rio)
(Leito de rio)
(Leito de rio)
(Leito de rio)

Beija-me

Beija-me!
Deixa o teu rosto coladinho ao meu
Beija-me
Eu dou a vida pelo beijo teu
Beija-me
Quero sentir o teu perfume
Beija-me com todo o teu amor
Se não eu morro de ciúme

Ai, ai, ai, que coisa boa
O beijinho do meu bem
Dito assim parece à toa
O feitiço que ele tem
Ai, ai, ai, que coisa louca
Que gostinho divinal
Quando eu ponho a minha boca
Nos teus lábios de coral!

Capital do tempo

Bastante italiano, sírio e japonês,
Além do africano, índio e português,
Tudo isso ao alho e óleo,
Temperando a raça,
Se tivesse petróleo,
Então nem tinha graça !

Na capital do tempo, tempo é ouro e hora,
Quem vive de espera é juros de móra,
Não tem mais, nem menos,
Ou é sim ou não,
No máximo se espera pela condução !

Nas retas da Rio – São Paulo,
Chegando, chegando eu vim,
E vi o mundo aumentando,
Brasil passando por mim !

Paulista, é quem vem e fica !
Plantando família e chão !
Fazendo a terra, mais rica !
Dinheiro e calo na mão !…

Bastante italiano, sírio e japonês,
Além do africano, índio e português,
Tudo isso ao alho e óleo,
Temperando a raça,
Se tivesse petróleo,
Então nem tinha graça !…

Foi você, fui eu

Quem deixou a porta para a rua escancarada?
Foi você, fui eu
Quem que trouxe alguém de fora para nossa casa?
Foi você, fui eu

Se a janela dormiu aberta
Não fui eu quem esqueceu
Você não me viu chorando
Veio a chuva, nosso amor morreu

Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu

Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu

Quem provou o gosto insuportável da rotina
Foi você, fui eu
Quem sofreu, chorou por tua vida clandestina
Foi você, fui eu

Se a janela dormiu aberta
Não fui eu quem esqueceu
Você não me viu chorando
Veio a chuva, nosso amor morreu

Deixa que amanhã
Tudo pode estar
Muito diferente

Se quiser voltar
Eu posso deixar a porta e a janela para a rua
Escancaradas pra você entrar
Se eu quiser voltar

Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu

Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu
Foi você, fui eu

Negão negra

Nunca foi fácil
E nunca será
Para o povo preto
Do preconceito se libertar

Sempre foi luta
Sempre foi porrada
Contra o racismo estrutural
Barra pesada

Negão, negão, negão, negão
Negão, negão, negão, negão
(Negra, negra, negra, negra, negra)

Negão, negão, negão, negão
Negão, negão, negão, negão
(Negra, negra, negra, negra, negra)

Fala pro homem cordial e a sua falha engrenagem
Meu corpo é livre, com amor, cor e coragem
Pra cada um que cai, choramos rios e mares
Mas nunca calarão as nossas vozes milenares
Sem gênero ou preceito, humanos em nova fase
Wakanda é o meu mundo, Palmares setor a base
Quem topa esse rolê, dá asas a liberdades
No feat filho do rei e a deusa Elza Soares

Todos os dias, me levanto
Olho no espelho, sempre me encanto
Com o meu cabelo e a cor da pele dos ancestrais

Todas as noites, no quarto escuro
Peço a Deus e aos orixás
Que a escravidão não volte nunca, nunca, nunca mais

Negão, negão, negão, negão
Negão, negão, negão, negão
(Negra, negra, negra, negra, negra)

Negão, negão, negão, negão
Negão, negão, negão, negão
(Negra, negra, negra, negra, negra)

Negão, negão, negão, negão
Negão, negão, negão, negão
(Negra, negra, negra, negra, negra)

Negão (negra)
Negão (negra)
Negão (negra)
Negão (negra)
Negão (negra, negra, negra)

(Aham) é, vai
(Negra, negra, negra, negra, negra, negra, negra, negra)
Negão, negão, negão, negão
Negão, negão, negão, negão

A coisa tá preta

Quem não sabe de onde veio, não sabe pra onde vai
Sou preta, favelada, abusada e sou linda demais
Vem comigo, Rebecca! Yeah, yeah!

Desde pequena eu aprendi: O que cai do céu é chuva
Se quiser ganhar, meu bem, tem que ter luta
Natural do Rio de Janeiro
Onde preto favelado é destaque só no mês de fevereiro
Ou na página policial
Prende neguinho, a gente arruma um culpado e sai na capa do jornal
Tá achando que esse papo é só resenha
Pergunta a Vinicius Romão ou Rennan da Penha
Eu tive que rebolar pra não cair no esquema
E, rebolando, eu aprendi a bagunçar o sistema

A pretinha sem vergonha, funkeira, maluca
É vizinha do playboy lá na Barra da Tijuca
Ganho o que eu ganho porque eu sou de verdade
Balanço a raba e você pensa sacanagem
Não preciso de homem pra porra nenhuma
Ninguém manda na minha vida, ninguém manda na minha bunda

Negros, negras
Negras, negros
Reis, rainhas
Rainhas, reis

Poderosa, poderoso
Poderoso, poderosa
King, Wakanda
Beleza, riqueza

África Mãe
Oxum, proteja
A minha alma preta

Por que que a fome é negra
Se negra é a beleza?
Se todo mundo canta e tá feliz
É que a coisa tá preta

Por que que a fome é negra
Se negra é a beleza?
Se todo mundo canta e tá feliz
É que a coisa tá preta

A coisa tá preta!

Por que que a fome é negra
Se negra é a beleza?
Se todo mundo canta e tá feliz
É que a coisa tá preta

Por que que a fome é negra
Se negra é a beleza?
Se todo mundo canta e tá feliz
É que a coisa tá preta

A coisa tá preta!

Libertação

Eu não vou sucumbir
Eu não vou sucumbir
Avisa na hora que tremer o chão
Amiga é agora
Segura a minha mão

A minha jangada foi pro mar
Pra minha jogada arriscar
A minha jangada foi pro mar, pro mar
Pra minha jogada arriscar

Eu não vou sucumbir
Eu não vou sucumbir
Avisa na hora que tremer o chão
Amigo é agora
Segura a minha mão

Você largou, largou, largou
Não tem solução
Ago, ago, ago é libertação
Largou, largou, largou
Não tem solução
Ago, ago, ago é libertação

Sucumbir, sucumbir, sucumbir
Sucumbir, sucumbir, sucumbir

Espumas ao vento

Sei que aí dentro ainda mora um pedaço de mim
Um grande amor não se acaba assim
Feito espumas ao vento

Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa feito brincadeira
O amor deixa marcas que não dá para apagar

Sei que errei, estou aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo

Sem saber direito aonde ir e o que fazer
Eu não encontro uma palavra para te dizer
Mas se eu fosse você
Eu voltava pra mim de novo

De uma coisa fique certa, amor
A porta vai tá sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora em que você chegar

De uma coisa fique certa, amor
A porta vai tá sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora em que você chegar

Eu bebo sim

Eu bebo sim
Estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Eu bebo sim

Eu bebo sim
Olha, eu estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo

Tem gente que já está com o pé na cova
Não bebeu e isto é prova
Que a bebida não faz mal
Um pro santo
Bota o choro e a saideira
Esvazia a prateleira
E diz que a vida tá legal
Eu bebo sim

Eu bebo sim
Estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Eu bebo sim

Bebo sim
Estou vivendo, é
Tem gente que não bebe e está morrendo

Tem gente que detesta um pileque
Diz que é coisa de moleque
Cafajeste ou coisa assim
Mas essa gente quando está com a cara cheia
Vira chave de cadeia
Esvazia o botequim
Olha, eu bebo sim

Eu bebo sim, eu bebo sim, eu bebo sim
Estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Eu bebo sim

Eu bebo
Ai, estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
E eu bebo sim

Ai, eu bebo sim, olha, eu bebo sim
Estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Olha, eu bebo sim

Eu bebo sim, eu bebo sim
Estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Eu bebo sim

Eu bebo sim
Ai, eu estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Eu bebo sim

Eu bebo sim, bebo sim
Estou vivendo, estou vivendo
Tem gente que não bebe e está morrendo
Eu bebo sim

A carne

A carne mais barata do mercado é a carne negra

(Tá ligado que não é facil, né, mano?)
(Né, mano? Vixe!)
(Se liga aí!)

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
(Só serve o não preto)

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra (diz aí!)
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, mermão
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado

E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

Mas, mesmo assim
Ainda guardo o direito de algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito

Brigar por justiça e por respeito (pode acreditar)
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar, brigar
(Se liga aí!)

A carne mais barata do mercado é a carne negra
(Na cara dura, só serve o não preto)
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
(Na cara dura, só serve o não preto)
A carne mais barata do mercado é a carne negra

(Tá ligado que não é fácil, né, mano?)

Negra
Negra
Carne negra (pode acreditar)
A carne negra

Vaso quebrado

Você cutucou meu coração
Com a vara curta do amor
Depois acenou e me deixou
Curtindo essa imensa dor
E disse pra eu ter muita paciência
Da tolerância nasce a flor
Vê se se manca e volta depressa
Não me deixe assim, sofredor

Você cutucou meu coração
Com a vara curta do amor
Depois acenou e me deixou
Curtindo essa imensa dor
E disse pra eu ter muita paciência
Da tolerância nasce a flor
Vê se se manca e volta depressa
Não me deixe assim, sofredor

Eu espero, aguardo e lhe peço
Esse negócio de amor é tão ruim
Quando não perdoo é o começo
Do princípio, do início, do fim
Ficar tão longe de mim não é bom
Mesmo que tenha sido enganado
Não há cola neste mundo inteiro
Que conserte um vaso quebrado

Você cutucou meu coração
Com a vara curta do amor
Depois acenou e me deixou
Curtindo essa imensa dor
E disse pra eu ter muita paciência
Da esperança nasce a dor
Vê se se manca e volta depressa
Não me deixa assim, sofredor

Não me deixa assim, sofredor
Não me deixa assim, sofredor

Se acaso você chegasse

Se acaso você chegasse
No meu chateau e encontrasse
Aquela mulher que você gostou
Será que tinha coragem 
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou?

Eu falo porque essa dona 
Já mora no meu barraco 
À beira de um regato
E de um bosque em flor
De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor

Aquarela brasileira

Vejam esta maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu pra este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do brasil em forma de aquarela
Passeando pelas cercanias do amazonas
Conheci vastos seringais
No pará a ilha de marajó
E a velha cabana do timbó.
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no ceará,terra de irapuã
De iracema e tupa.
Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na bahia
Bahia de castro alves,do acarajé
Das noites de magia do cadomblé
Depois de atravessar as matas do ipu
Assisti em pernambuco
A festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
Na arte,na beleza e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra
São paulo engrandece a nossa terra
Do leste por todo centro-oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz
O rio do samba e das batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil,
Essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram em aquarela o meu brasil.
Lá…lá…lá…
Lá…lá…lá…lá…lá…

Exú Nas Escolas

Exú nas escolas
Exú nas escolas
Exú nas escolas
Exú no recreio
Não é show da Xuxa
Exú brasileiro
Exú nas escolas
Exú nigeriano
Exú nas escolas
E a prova do ano
É tomar de volta
Alcunha roubada
De um deus iorubano
Exú nas escolas
Exú nas escolas
Exú nas escolas (ê-ê-exú)
Exu nas escolas (ê-ê-exú)

Estou vivendo como um mero mortal profissional
Percebendo que às vezes não dá pra ser didático
Tendo que quebrar o tabu e os costumes frágeis das crenças limitantes
Mesmo pisando firme em chão de giz
De dentro pra fora da escola é fácil aderir a uma ética e uma ótica
Presa em uma enciclopédia de ilusões bem selecionadas
E contadas só por quem vence
Pois acredito que até o próprio Cristo era um pouco mais crítico em relação a tudo isso
E o que as crianças estão pensando?
Quais são os recados que as baleias têm para dar a nós, seres humanos, antes que o mar vire uma gosma?
Cuide bem do seu Tcheru
Na aula de hoje veremos exu
Voando em tsuru
Entre a boca de quem assopra e o nariz de quem recebe o tsunu
As escolas se transformaram em centros ecumênicos
Exu te ama e ele também está com fome
Porque as merendas foram desviadas novamente
Num país laico, temos a imagem de César na cédula e um “Deus seja louvado”
As bancadas e os lacaios do Estado
Se Jesus Cristo tivesse morrido nos dias de hoje com ética
Em toda casa, ao invés de uma cruz, teria uma cadeira elétrica

Exú nas escolas
Exú nas escolas
Exú nas escola
Exú no recreio
Não é show da Xuxa
Exú brasileiro
Exú nas escolas
Exú nigeriano
Exú nas escolas
E a prova do ano
É tomar de volta
Alcunha roubada
De um deus iorubanos
Exú nas escolas (Ya)
Exú nas escolas (Ya)
Exú nas escolas (Ya)
Exú nas escolas (Ya)

Banho

Acordo maré
Durmo cachoeira
Embaixo sou doce
Em cima, salgada

Meu músculo musgo
Me enche de areia
E fico limpeza
Debaixo da água

Misturo sólidos com os meus líquidos
Dissolvo pranto com a minha baba
Quando tá seco logo umedeço
Eu não obedeço porque sou molhada

Enxáguo a nascente e lavo a porra toda
Pra maresia combinar com o meu rio, viu
Minha lagoa engolindo a sua boca
Eu vou pingar em quem até já me cuspiu, viu

O Que Se Cala

Mil nações
Moldaram minha cara
Minha voz
Uso pra dizer o que se cala
O meu país
É meu lugar de fala

Mil nações
Moldaram minha cara
Minha voz
Uso pra dizer o que se cala
Ser feliz no vão, no triste, é força que me embala
O meu país
É meu lugar de fala

Mil nações
Moldaram minha minha cara
Minha voz
Uso pra dizer o que se cala
Ser feliz no vão, no triste, é força que me embala
O meu país
É meu lugar de fala

Pra que separar?
Pra que desunir?
Por que só gritar?
Por que nunca ouvir?
Pra que enganar?
Pra que reprimir?
Por que humilhar?
E tanto mentir?!
Pra que negar
Que o ódio é que te abala?

O meu país
É meu lugar de fala

Mil nações
Moldaram minha minha cara
Minha voz
Uso pra dizer o que se cala
Ser feliz no vão, no triste, é força que me embala
O meu país
É meu lugar de fala

Pra que explorar?
Pra que destruir?
Por que obrigar?
Por que coagir?
Pra que abusar?
Pra que iludir?
E violentar
Pra nos oprimir?
Pra que sujar o chão da própria sala?

Nosso país
Nosso lugar de fala
O meu país
É meu lugar de fala
Nosso país
Nosso lugar de fala
Nosso país
Nosso lugar de fala

Dentro de Cada Um

A mulher de dentro de cada um não quer mais silêncio
A mulher de dentro de mim cansou de pretexto
A mulher de dentro de casa fugiu do seu texto

E vai sair
De dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
De dentro de quem for
A mulher é você

De dentro da cara a tapa de quem já levou porrada na vida
De dentro da mala do cara que te esquartejou, te encheu de ferida
Daquela menina acuada que tanto sofreu e morreu sem guarida
Daquele menino magoado que não alcançou a porta da saída

E vai sair
De dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
De dentro de quem for
A mulher é você

A mulher de dentro de cada um não quer mais incenso
A mulher de dentro de mim já cansou desse tempo
A mulher de dentro da jaula prendeu seu carrasco

E vai sair
De dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
De dentro de quem for
A mulher é você

De dentro do carro do moço que te maltratou e pensou que era fácil
De dentro da ala das loucas vendendo saúde a troco de nada
Daquela mocinha suada que vendeu o corpo pra ter outra chance
Daquele mocinho matado jogado num canto por ser diferente

E vai sair
De dentro de cada um
A mulher vai sair
E vai sair
De dentro de quem for
A mulher é você
Sou eu
A mulher
Sou eu
Sou eu
A mulher
Sou eu

Maria da Vila Matilde

Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar

Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar

Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

E quando o samango chegar
Eu mostro o roxo no meu braço
Entrego teu baralho
Teu bloco de pule
Teu dado chumbado
Ponho água no bule
Passo e ainda ofereço um cafezim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço
E jogo água fervendo
Se você se aventurar

Eu solto o cachorro
E, apontando pra você
Eu grito: péguix guix guix guix
Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizinhos
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

E quando tua mãe ligar
Eu capricho no esculacho
Digo que é mimado
Que é cheio de dengo
Mal acostumado
Tem nada no quengo
Deita, vira e dorme rapidinho
Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Mão, cheia de dedo
Dedo, cheio de unha suja
E pra cima de mim? Pra cima de moi? Jamé, mané!

Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim

Mulher do Fim do Mundo

Meu choro não é nada além de carnaval
É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e super homem cantam o calor
Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida, dura até o fim

Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar

Meu choro não é nada além de carnaval
É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e super homem cantam o calor
Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida, dura até o fim

Mulher do fim do mundo
Eu sou, eu vou até o fim cantar
Mulher do fim do mundo
Eu sou, eu vou até o fim cantar, cantar

Eu quero cantar até o fim
Me deixem cantar até o fim
Até o fim, eu vou cantar
Eu vou cantar até o fim

Eu sou mulher do fim do mundo
Eu vou, eu vou, eu vou cantar
Me deixem cantar até o fim

La la la laia la la laia
La la la laia la la laia

Até o fim eu vou cantar, eu quero cantar
Eu quero é cantar, eu vou cantar até o fim, la la la lara la lara laia
Eu vou cantar, eu vou cantar
Me deixem cantar até o fim

Me deixem cantar até o fim
Me deixem cantar
Me deixem cantar até o fim