Não existe amor em SP

Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você

Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra
Afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu

Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro duas nuvens
Em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus


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4 comentários em “Não existe amor em SP”

  1. Nina Machado

    Não existe amor em SP, é assim que começa a música do Criolo, trazendo uma reflexão contrastante e analítica da maior capital do país.

    A música tem acordes melancólicos e versos que confirmam a tristeza do ser paulistano. Rodeado de muros e prédios, o cidadão que percorre essas ruas tão caóticas se sente desesperançoso com a vida. Aqui ninguém vai pro céu, ou ainda, aqui ninguém vê o céu.

    Mesmo que melancólica, a música também nos passa o caos que virou essa cidade que não soube crescer, o labirinto místico em que os grafites gritam deixa seus habitantes mais longe um do outro. Seja em sua solidão velada, seja em seu abismo social, onde vemos homens fardados descendo porrada em doentes do craque, onde vemos jornalistas de câmera em mãos atirar verdades mentirosas no rosto de estudantes, onde vemos pitboys desferir golpes de lâmpada em homossexuais. A solidão impera, a mesma solidão em todos e se a sua solidão for diferente, vai ser massacrado.

    Mesmo nos coloridos centros boêmios de São Paulo, o que vemos hoje são pessoas amargando em sua busca infindável em encontrar alguém que os ouça. No entanto os bares estão cheios de almas tão vazias, e no craque, na cocaína e em outras drogas que observamos homens e mulheres ter a falsa impressão de serem ouvidos por algum ser mítico que os deixa realizados por alguns instantes, se transformam em zumbis na madrugada, em busca de um mísero gole de vida.

    Dos happyhours na Vila Olímpia à decadência da Avenida São João as pessoas tentam mostrar o quão são felizes, explicam que não é necessário morrer pra se encontrar com deus, pois deus já os presenteou com dinheiro e fama, a ganância vibra e a vaidade excita, todos eles morrendo afogados em seu próprio mar de fel.

    São Paulo roubou-nos a vida, nos engoliu e o paulistano não sabe mais como se vive fora da cidade sem céu. Todos esses carros coloridos, todas essas casas, esses traços, essas pessoas, esse clima de vida, não se enganem, São Paulo é uma cidade morta, por isso ela não dorme.

    Criolo conseguiu interpretar esse momento paulistano em sua canção. Não existe amor em SP, como tantas outras, é uma música que marca uma época. Uma música genial de uma artista genial, capaz de vencer o preconceito que a cultura hip hop sempre sofreu.

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  2. José Eudes

    Genialidade em externar os sentimentos de tantos – como testemunha ocular dos traumas de uma cidade que é vítima e, ao mesmo tempo, causadora do sofrimento. Mas, também, é, ao mesmo tempo, responsável pelo sucesso e – acredite – bem-estar de tantas pessoas.

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