Homenagem ao Malandro

Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central


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8 comentários em “Homenagem ao Malandro”

  1. A época da estréia do musical “Ópera do Malandro”, Chico Buarque descreveu e justificou o ambiente da peça em entrevistas a Isto É e Manchete: “Nós pegamos a Lapa, os bordéis, os agiotas, os contrabandistas, os policiais corruptos, os empresários inescrupulosos. (…) Tomamos como ponto de partida o que o italiano chama de Malacittá, o bas fond. Esta Lapa (que) começava a morrer era o prenúncio de uma série de outras mortes: da malandragem, de Madame Satã, de Geraldo Pereira, de Wilson Batista. Foi o fim da era de ouro do sambista urbano carioca. “Essa história está contada na letra de “Homenagem ao Malandro”, uma das melhores composições do musical: “Eu fui fazer um samba em homenagem / à nata da malandragem que conheço de outros carnavais / eu fui à Lapa e perdi a viagem / que aquela tal malandragem não existe mais…” E prossegue, retratando o “novo” malandro, “o malandro profissional”, “oficial”, “candidato a malandro federal”, arrematando: “Mas o malandro pra valer / – não espalha-/ aposentou a navalha / (…) / até trabalha / mora lá longe e chacoalha / num trem da Central…” “Homenagem ao Malandro” é um samba rasgado, com direito a solo de trombone do grande Maciel, breques e uma adequada interpretação de Chico Buarque. No álbum duplo do musical, só lançado em dezembro de 79, este samba é cantado pelo malandro Moreira da Silva, que vive assim o personagem João Alegre.

    Fonte: Livro 85 anos de Música Brasileira Vol. 2, 1ª edição, 1997, editora 34

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  2. Um certo alguém

    Aqui Chico demonstra que o malandro que ele conhecera anteriormente já não era mais o mesmo… Agora existia o chamado malandro de luxo, o chamado malandro federal!

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  3. Fernando Ribeiro

    Peguei esta letra para estudar Interpretação de Textos com meu enteado. Ao formular as questões para ele responder, deparei-me com a seguinte dúvida: Existe Bom Malandro? Pesquisando na Web e pensando por muito tempo sobre o assunto, cheguei a conclusão que a tal malandragem da Lapa era na realidade um estilo humorístico de vida, uma brincadeira. Assim como existe a brincadeira dos Cafajestes, dos Machistas, não que eles não existam, mas algumas pessoas gostam de se passar por um deles apenas como uma forma humorada de levar a vida, uma fantasia. Assim eram os Bons Malandros.

    Eu e um amigo, quando criança, formamos uma dupla denominada: “J. Pilantrosa, Negócios Obscuros” (com foto de um fantasminha na carteirinha), que era na verdade uma organização imaginária que tinha como filosofia ter uma saída esperta e lógica para todas as situações que pudesse nos atingir. Como se fosse tudo programado e esperado. Nós dois agíamos quase como os personagens Spy vs Spy. Era uma variação de um Humor de Improviso nas situações do dia a dia.

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  4. Ismael Bastos

    A música “Homenagem ao malandro” de autoria de Chico Buarque faz parte da peça teatral escrita por ele mesmo (Chico Buarque) denominada “Ópera do Malandro”, executada em 1978.
    Na análise desta música, vou dividi-la em três partes:
    1ª parte
    Eu fui fazer um samba em homenagem
    à nata da malandragem,
    que conheço de outros carnavais.

    Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
    que aquela tal malandragem
    não existe mais.

    Aqui, Chico começa contando a história de um cara que vai tentar relembrar os velhos tempos e encontrar seus velhos amigos no Bairro da Lapa, bairro que na primeira metade do Século XX era o ponto de encontro dos “malandros”.
    O malandro no qual Chico Buarque se refere era o típico homem boêmio e mulherengo que freqüentava as noites no Bairro da Lapa no Rio de Janeiro que adorava uma “cachaça”, mulheres, o samba e era dado a cometer alguns “trambiques”. Era um típico homem de modos do “jeitinho brasileiro”.
    Chico vai à Lapa e não encontra aquela turma de malandros que parece não existir mais, quando ele diz na canção – “Eu fui à Lapa e perdi a viagem, que aquela tal malandragem não existe mais.” Aí ele percebe que neste espaço geográfico, há uma nova configuração nos modos e nos costumes, e que na verdade a mudança não está no fato de que não exista mais malandragem e sim por que o tipo de malandragem agora é outro, como poderemos ver na próxima parte.

    2ª parte.
    Agora já não é normal,
    o que dá de malandro regular profissional,
    malandro com o aparato de malandro oficial,

    malandro candidato a malandro federal,
    malandro com retrato na coluna social;
    malandro com contrato, com gravata e capital,
    que nunca se dá mal.

    Agora aqui nessa parte, ele desenvolve o enredo sobre essa mudança comportamental dos malandros, onde além dos trajes, os costumes também mudaram, tendo então agora o malandro uma postura que poderíamos dizer de certa forma mais “socialmente aceito”, tendo um papel aparentemente mais responsável e mais sóbrio que o malandro de outrora.
    Mas como aplicar essa comparação para o ensino da geografia para alunos do 2º e/ou 3º ano do ensino médio?
    É que o capitalismo trouxe consigo uma forma de transformação radical na sociedade e em quase todo o mundo, e que por trás dessa aparente sobriedade, e dessa aparente imagem que causa o respeito e a admiração que as pessoas no geral nutrem por aquelas que comandam a situação e tem o poder em suas mãos, há muitas malandragens enrustidas.
    Poderíamos comparar as situações lembrando que o Brasil até os anos 30 era muito pouco industrializado e que possuía um mero papel de abastecer o mercado mundial com produtos da produção primária, posição característica dos países recém-descolonizados na divisão internacional do trabalho. A partir do momento em que o Brasil entra na era industrial, uma nova ordem se estabelece, e onde podemos dizer que essa nova malandragem recebe um caráter mais institucional, quando o Chico diz – “o que dá de malandro regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial”. Esse aparato de malandro oficial pode muito bem ser relacionada com o que Marx denominou no capítulo XXIV do Capital, onde ele aborda sobre a acumulação primitiva do capital, que foi obtida num primeiro momento através da rapinagem e da exploração de uma quantidade grande de pessoas.
    O modo de produção capitalista como dito acima tende a conformar os modos e os costumes e a configurar o espaço inserido neste modelo de sociedade, tanto que a imagem se torna um fator de extrema importância como neste trecho: “malandro candidato a malandro federal, malandro com retrato na coluna social” – fazendo referências às pessoas que almejam adentrar na classe política e para a conquista desse objetivo vemos os candidatos a cargos eletivos praticando aqueles atos que todo político clássico faz em períodos eleitorais que é cumprimentar o povo nas ruas, comer pastel na feira, abraçar as senhoras donas de casa, beijar criancinhas, etc.. Temos também, os membros da alta classe em seus belos trajes e as mulheres com seus belos vestidos e jóias deslumbrantes posando para fotos que são divulgadas para o público em geral que fica enamorado por esse modo de viver, e que dessa forma o povo acaba reproduzindo mesmo sem condições para tal, esse modelo de vida que desperta o seu desejo platônico.
    No trecho: “malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal”, entramos aí no empresariado que controla não só seus subalternos em suas fábricas, mas também, a vida na sociedade ao redor, pois ele (o empresariado) está no comando da situação e sempre cria mecanismos que satisfaçam os seus interesses, pois além de submeter o proletariado, também controla o Estado, este (o Estado) que acaba instituindo políticas que em sua maior medida, institucionaliza a divisão de classes que favorecem a burguesia.
    Para finalizar a segunda parte, podemos afirmar segundo Chico Buarque nesta canção que a malandragem na sociedade capitalista é muito presa à imagem de pessoas que possuem alguns vícios, não gostam muito de trabalhar, não levam relacionamentos amorosos muito a sério, praticam algumas contravenções, não sendo considerada malandragem pelo senso comum as práticas de exploração do trabalho, as arbitrariedades repressivas do Estado, as sabotagens competitivas do mercado, etc..

    3ª parte
    Mas o malandro para valer, não espalha,
    aposentou a navalha,
    tem mulher e filho e tralha e tal.

    Dizem as más línguas que ele até trabalha,
    Mora lá longe chacoalha,
    no trem da central

    Como já foi dito neste trabalho, o modo de produção capitalista re-configura os modos de vida, tanto que o malandro de outrora acaba deixando de lado os seus costumes antigos de farra, samba, mulher, cerveja e futebol e acaba entrando no mercado de trabalho por conta das suas necessidades vitais e também por conta das novas necessidades que este modo de vida acaba impondo a ele. Ou seja, ele acaba se “proletarizando”, e como o seu salário só permite que ele satisfaça em sua maior parte, as suas necessidades mais imediatas, ele acaba tendo que morar na periferia, como diz neste último trecho da música: “dizem as más línguas que ele até trabalha, mora lá longe e chacoalha no trem da Central.”

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  5. Concordo com Ismael na primeira parte da música sobre a tal malandragem do homem boêmio.
    Na parte na segunda parte
    “Agora já não é normal, o que dá de malandro
    regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,….” Acredito que Chico se refere ao governo, aos políticos corruptos, que roubam nosso dinheiro e nunca se dão mal.
    Ele faz uma comparação a “malandragem” do homem boêmio, mulherengo, etc.. a malandragem dos políticos.

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  6. Concordo com Ismael na primeira parte sobre o malandro boêmio, mulherengo, etc..
    Mas, na segunda parte “Agora já não é normal, o que dá de malandro
    regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
    malandro candidato a malandro federal…”
    Acredito que Chico se refere aos políticos corruptos, ao governo, que sempre roubam e nunca se dão mal.
    Nisso ele faz uma comparação com o malandro ” homem boêmio” e aos malandros políticos.

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  7. Eu não entendo que “ja não é normal”, era normal antes? o malandro oficial, candidato, com retrato, etc? Por que Chico fala de uma malandragem de classe alta no bairro da Lapa? Era o “sonho” a “postura” de aquele tal malandragem pobre o Lapa foi um ponto de encontro para os ricos … também pode ser.
    Enfim, na última parte, o malandro e domesticado, o proletáriçado. Isso.

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    1. Acontece que o “normal” se refere a quantidade. Antes acontecia, mas em um nível esperado, “agora” só dá isso.

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