Análise de Letras

Homenagem ao Malandro

Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central

Comentários

Fernando Ribeiro

05/02/2013

Peguei esta letra para estudar Interpretação de Textos com meu enteado. Ao formular as questões para ele responder, deparei-me com a seguinte dúvida: Existe Bom Malandro? Pesquisando na Web e pensando por muito tempo sobre o assunto, cheguei a conclusão que a tal malandragem da Lapa era na realidade um estilo humorístico de vida, uma brincadeira. Assim como existe a brincadeira dos Cafajestes, dos Machistas, não que eles não existam, mas algumas pessoas gostam de se passar por um deles apenas como uma forma humorada de levar a vida, uma fantasia. Assim eram os Bons Malandros. Eu e um amigo, quando criança, formamos uma dupla denominada: "J. Pilantrosa, Negócios Obscuros" (com foto de um fantasminha na carteirinha), que era na verdade uma organização imaginária que tinha como filosofia ter uma saída esperta e lógica para todas as situações que pudesse nos atingir. Como se fosse tudo programado e esperado. Nós dois agíamos quase como os personagens Spy vs Spy. Era uma variação de um Humor de Improviso nas situações do dia a dia.

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Um certo alguém

17/12/2012

Aqui Chico demonstra que o malandro que ele conhecera anteriormente já não era mais o mesmo... Agora existia o chamado malandro de luxo, o chamado malandro federal!

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Pedro

25/02/2012

A época da estréia do musical "Ópera do Malandro", Chico Buarque descreveu e justificou o ambiente da peça em entrevistas a Isto É e Manchete: "Nós pegamos a Lapa, os bordéis, os agiotas, os contrabandistas, os policiais corruptos, os empresários inescrupulosos. (...) Tomamos como ponto de partida o que o italiano chama de Malacittá, o bas fond. Esta Lapa (que) começava a morrer era o prenúncio de uma série de outras mortes: da malandragem, de Madame Satã, de Geraldo Pereira, de Wilson Batista. Foi o fim da era de ouro do sambista urbano carioca. "Essa história está contada na letra de "Homenagem ao Malandro", uma das melhores composições do musical: "Eu fui fazer um samba em homenagem / à nata da malandragem que conheço de outros carnavais / eu fui à Lapa e perdi a viagem / que aquela tal malandragem não existe mais..." E prossegue, retratando o "novo" malandro, "o malandro profissional", "oficial", "candidato a malandro federal", arrematando: "Mas o malandro pra valer / - não espalha-/ aposentou a navalha / (...) / até trabalha / mora lá longe e chacoalha / num trem da Central..." "Homenagem ao Malandro" é um samba rasgado, com direito a solo de trombone do grande Maciel, breques e uma adequada interpretação de Chico Buarque. No álbum duplo do musical, só lançado em dezembro de 79, este samba é cantado pelo malandro Moreira da Silva, que vive assim o personagem João Alegre. Fonte: Livro 85 anos de Música Brasileira Vol. 2, 1ª edição, 1997, editora 34

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