Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor, ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o luar está chamando, que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança, comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui, ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o meu pinho está chorando, que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro, vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Oh vem a minha estrela madrugada, vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Benvinda, benvinda, benvinda
Que essa aurora está custando, que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho
Certo de estar perto da alegria, comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha um carinho para dar, ou venha pra se consolar
Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Ah, que bom que você veio, e você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda, benvinda, benvinda. benvinda, benvinda
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Gostaria muito de receber uma análise da letra dessa música de Chico Buarque. As vezes penso que Benvinda seria a Revolução de 68, mas ela não foi Benvinda.
O compositor não mais aguentando o padecimento da solidão, escreveu “na areia” estes versos para sua musa: “Dono do abandono e da tristeza / comunico oficialmente / que há lugar na minha mesa / pode ser que você venha / por mero favor / ou venha coberta de amor / seja lá como for / venha sorrindo, ai / benvinda / benvinda/ benvinda / que o luar está chamando / que os jardins estão florindo / que eu estou sozinho”. Ela não veio, o compositor reuniu então toda a gente da boemia, e mandou um recado para sua amada: “cheio de anseios e esperança comunico a toda gente / que há lugar na minha dança / pode ser que você venha / morar por aqui / ou venha pra se despedir / não faz mal / pode vir até mentindo, aí / benvinda / benvinda / benvinda / que o meu pinho está chorando / que o meu samba está pedindo / que eu estou sozinho”. Ainda assim, se ela recebeu o convite, dele não fez caso, pois não atendeu o chamado. Sozinho em seu quarto, o artista viu crescer ainda mais seu desamparo. Fitando a lua, em desespero, pediu-lhe que levasse seus versos para a mulher que estava a esfacelar sua vida: “Venha iluminar meu quarto escuro / venha entrando com o ar puro / todo novo da manhã / venha minha estrela madrugada / venha minha namorada / venha amada / venha urgente / venha irmã / benvida / benvinda / benvinda / que essa aurora está custando / que a cidade está dormindo/ que eu estou sozinho”. A lua não deve ter dado a ela o recado, pois ela dessa vez também não veio. O compositor resolveu falar de poesia, e pediu a um pássaro que fosse cantar seus versos poéticos na janela de sua diva: “Certo de estar perto da alegria / comunico finalmente / que há lugar na poesia / pode ser que você tenha / um carinho para dar / ou venha pra se consolar / mesmo assim pode entrar / que é tempo ainda, ai / benvida / benvinda / benvinda”. E dessa vez ela veio, cheia de ternura e juras de amor eterno. O artista, pelo amor extasiado, tomou nas mãos a amada e o pinho e, pelas ruas, pôs-se a cantar esta canção: “Ah, que bom que você veio / que você chegou tão linda / eu não cantei em vão / benvinda / benvinda / benvinda / benvinda / benvinda”.