Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz, a voz resulta um prato
Que gira para todos nós
O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó
Porém a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes
Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar, queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz
Foi revelada na assembléia - atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz
E o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém
Comentários
LUCAS
30/01/2013
acho muito legal a duplicidade de sentido do termo "voz" no coro final: - "oq é bom para o dono é bom para voz", além do sentido evidente (a voz como personagem da história) podemos deduzir um sentido implicito: o termo "vós", assim temos, aquilo que é bom para o dono é bom para vocês. brilhante Chico!
luiz soares
13/09/2011
Parece tratar-se da relação da então poderosa indústria fonográfica com os seus artistas contratados , con-tratados pelos "algozes" como apenas mais uma voz.
CARLOS
14/08/2011
Esta música foi feita para denunciar que não queria mais manter o contrato com a sua gravadora e contatar outra, porém, esta não aceitou, resultando em uma guerra judicial.