No centro da sala, diante da mesa
No fundo do prato, comida e tristeza
A gente se olha, se toca e se cala
E se desentende no instante em que fala
Medo, medo, medo, medo, medo, medo
Cada um guarda mais o seu segredo
A sua mão fechada, a sua boca aberta
O seu peito deserto, sua mão parada
Lacrada e selada
E molhada de medo
Pai na cabeceira: É hora do almoço
Minha mãe me chama: É hora do almoço
Minha irmã mais nova, negra cabeleira
Minha avó me reclama: É hora do almoço!
Ei, moço!
E eu inda sou bem moço pra tanta tristeza
Deixemos de coisas, cuidemos da vida
Senão chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida
Ou coisa parecida, ou coisa parecida
Ou coisa parecida, aparecida
Ou coisa parecida, ou coisa parecida
Ou coisa parecida, aparecida
Letra Composta por: Belchior
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Estilo Musical:
a música fala e enfatiza a sociedade patriarcal, que pode ser inserida dentro do contexto, ainda, colonial. Pelo temor que o pai, nesse caso, causa, a filha nao fala, apenas ele, a mãe e a vó.
A música fala sobre a fome do sertanejo e do medo da morte. Nossa senhora da Aparecida representa a esperança do nordestino na religião. Ao final acaba com canto fúnebre conhecido como incelença.
A música apesar de retratar e desenhar com letras uma situação de algumas décadas atrás, não seria tão perfeita para a atual situação da sociedade, se tivesse sido escrita na semana passada. Fala sobre aquela “proximidade” que temos em nossas famílias,simbolismos de união, como almoçar todos juntos na mesa, mas ali, sabemos que cada um tem um segredo mais podre que o outro, a inimizade também é nítida, apesar de tentarmos as aparências. Cada um com suas angústias, suas iras e desencontros pessoais. Por mais que haja comida no prato, a tristeza vem acompanhando.
Belchior, canta nessa musica um sentimento triste de desunião entre membros de sua família em uma época que ele se torna independente de idade, essa situação lhe causa uma frustração.
Belchior nos traz uma reflexão sobre sua postura juvenil, frente a um modelo familiar digamos…conservador. É como se ele, como em outras composiçôes suas, enaltecesse o advento do novo, como forma de quebrar alguns paradigmas nas relaçôes humanas, quê aqui, se passam na hora do almoço. Ele entende que sua vida pode ser bem mais do que medos, tristezas, etc.
Essa bela musica fala sobre um grande dilema da sociedade. Muitas pessoas abrem mão de viver seu proposito, sua plenitude, em troca de uma vida “segura” condicionada pelo medo. O medo de não ter o que comer, o medo de não ser aceito, o medo de errar, o medo de se expor…. E essa contenção de vontades, de desejos, de vida, gera muita tristeza, depressão, ansiedade, …..
Observa-se claramente que há uma certa angustia e insatisfação por parte de todos os personagem na mesa. O autor aparentemente é o único que se mostra consciente sobre o fato de não achar correto ter que levar uma vida medíocre, limitada. Ele deixa isso claro quando fala que ainda é bem moço para tanta tristeza, deixemos de coisas, cuidemos da vida. Senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida!!!!
Fala da desunião da família conservadora brasileira. Pessoal que fez essa análise parece e que estão chapados…
“No centro da sala, diante da mesa
No fundo do prato comida e tristeza
A gente se olha, se toca e se cala
E se desentende no instante em que fala”
Típica reunião de família onde todos fingem estar bem quando estão no seu canto, mas quando se encontram com a própria família começam a brigar entre si, e o que era pra ser legal (almoço) acaba virando um desentendimento enorme
“Cada um guarda mais o seu segredo
A sua mão fechada, a sua boca aberta
No peito deserto, sua mão calada
Lacrada, selada e molhada de medo”
Pode-se interpretar como um encontro das mãos em um momento de oração antes de almoçar (bem comum antigamente), onde a pessoa pede alguma coisa mas ao mesmo tempo sabe que ela mesma é escrava dos seus segredos mais sujos e que, portanto, não é merecedora de tal. O peito deserto, vazio, oco, sem nada para se orgulhar. Apenas a mão tentando disfarçar o vazio interior
“Pai na cabeceira: é hora do almoço
Minha mãe me chama: é hora do almoço
Minha irmã mais nova, negra cabeleira
Minha avó reclama: é hora do almoço”
Aqui mostra como cada um interpreta essa reunião familiar. Para uns, como o pai, finalmente é hora de almoçar e que não aguentava mais. Para a mãe, hora da reunião em família. Para a irmã, ela não liga pois não faz questão. Para a avó, ela reclama pois o almoço já deveria estar servido.
“E eu inda sou bem moço pra tanta tristeza
Deixemos de coisas, cuidemos da vida
Se não vem a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida”
Uma crítica do autor para a sociedade em que está inserido onde tem que levar os problemas para casa e quando chega em casa estes problemas continuam aparecendo, só que trazidos pelos outros membros da família. Por isso ele expressa que devemos cuidar da vida para que não percamos tempo falando/fazendo o mal ou fofocando sobre a vida alheia. Não somente mas também um possível “choque” do autor com o falecimento de alguém próximo, pois nunca se sabe quem a morte vai levar. Pode muito bem ser alguém jovem cheio de saúde (na qual nós de fato não esperamos que a vida seja ceifada tão cedo) como uma pessoa já de idade (na qual já nos inserimos no processo de preparação para a perda)