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Já deu pra sentir

Já deu pra criar fama
Já deu pra sentir qual a trama
Quando eu nasci já tinha calor
Boca-de-siri, beijos de amor

Já deu pra saber quem me ama
Já deu pra sentir numa cama
Quando eu nasci já tinha a flor
O céu, javali, o cão caçador

A praia de Copacabana, minha mãe
São Paulo, Havana
Quando eu nasci tinha, sim senhor
Sapo, sapoti, Cristo Redentor
Águia, paturi, camelo, condor

E as águas do Amazonas
Os ratos, as rãs, ratazanas
Quando eu nasci já tinha terror
Águia, paturi, camelo, condor

Já deu pra saber dançar samba
Já deu para sentir pernas bambas
Quando eu nasci já tinha vapor
Little Richard já era cantor

Já deu para saber ser urbano
Já deu pra sentir ser humano
Quando eu nasci já tinha glamour
Pinel, Juqueri, Santos, Salvador

A europa curvou-se ante o Brasil

O pão de açúcar de cada dia

Ao ver o pássaro planar, no céu voar
Já era um sonho o aeroplano
De um menino a empinar pipa no ar
Queria ser o inventor do avião
Entre um par de asas, mandaria brasa
Sabe quem era o sonhador?
Santos Dumont!

Com sua pose e seu chapéu
Em pleno céu, no 14-bis
Tal e qual um giz
O quadro azul do ar riscou
E se arriscou

Sobre a história e o chão
Num voo bom foi à glória o homem
Nas alturas, nuvens
A nossa mãe da invenção
Santos Dumont!

Não viva todo mundo, não
Viva o Dumont, que esteve à margem
Mas teve coragem
A nossa mãe da invenção
Santos Dumont!

Diversões Eletrônicas

Só você não viu
Mas ela entrou, entrou com tudo
Naquele antro, naquele antro sujo
Você nunca imaginou, mas eu vi
No luminoso estava escrito
“diversões eletrônicas”
Era um balcão de bar de fórmica vermelha
E você ali, naquele balcão
– de quê?
De fórmica vermelha
Chorando, embriagado, pedia:
“garçon, mais um
Gin tônica”
Mas ele te avisou:
“você já bebeu muito, já bebeu demais”
Vai pra casa, moleque
E você foi, cambaleando
Até… até o telefone
Telefone público… blim, blim, blim
E discou, discou, discou
Novamente o mesmo número… número
No fliperama, ela entregava toda sua grana
– pra quem?
Prum boy, prum boyzinho sacana
Ex-motorista de autorama
Agora viciado nessas máquinas de corrida… viciado
Que tinha ganho fama pela sua perícia
Como volante
E pelo tratamento violento que dispensava
A suas amantes
Depois, quando clareou
E eles foram pro hotel
Ela viu um bêbado jogado no chão
E sorriu perversa

Pô, Amar É Importante

Pô, amar é importante
Cê não imagina a aflição que eu fico
Quando estou contigo ou não estou
Eu tenho dois amigos
Se chego pra eles e digo
Das nossas jogadas um pouco
Por vezes curtem dizendo
Você é muito louco
Outras vezes nada, nada dizem
Mas pinta um mal-estar na nossa cara
Que tá nos olhos, que eles pensam
Esse moço é neurótico
Eu não sei o que cê acha
Se sou gostoso ou bonito
Eu só sei que ando um pouco oprimido
Um pouco nervoso
Por exemplo, quando vou te ver
Não sei se boto o tênis bamba
Ou me amarro nuns retalhos
Eu só sei que gosto do seu corpo pra caramba
Pô, amar é importante
Cê num imagina a aflição que eu fico
Quando estou contigo ou não estou

Clara Crocodilo

São paulo, 31 de dezembro de 1999. falta
Pouco, pouco, muito pouco mesmo para o
Ano 2000 e você, ouvinte incauto, que no
Aconchego de seu lar, rodeado de seus
Familiares, desafortunadamente colocou
Este disco na vitrola, você que, agora,
Aguarda ansiosamente o espocar da
Champanha e o retinir das taças, você,
Inimigo mortal da angústia e do
Desespero, esteja preparado… o pesadelo
Começou. sim, eu sei, você vai dizer que é
Sua imaginação, que você andou lendo
Muito gibi ultimamente, mas então por
Que suas mãos tremeram, tremeram,
Tremeram tanto, quando você acendeu
Aquele cigarro… e por que você ficou tão
Pálido de repente? será tudo isto fruto da
Sua imaginação? não, meu amigo, vá ao
Banheiro agora, antes que seja tarde
Demais, porque neste mero disco que você
Comprou num sebo, esteve aprisionado
Por mais de 20 anos, o perigoso marginal,
O delinqüente, o facínora, o inimigo
Público número 1, clara crocodilo…

Quem cala consente, eu não me calo
Não vou morrer nas mãos de um tira
Quem cala, consente, eu desacato
Não vou morrer nas mãos de um rato
Não vou ficar mais neste inferno
Nem vou parar num cemitério
Metralhadora não me atinge
Não vou ficar mais neste ringue

Ei, você que está me ouvindo, você acha
Que vai conseguir me agarrar? pois então,
Tome…
Já vi que você é perseverante. vamos ver
Se você segura esta…
Meninas, vocês acham que eles querem
Mais?
Querem sim!
Você, que então é tão espertinho, vamos
Ver se você consegue me seguir neste
Labirinto.

Clara crocodilo fugiu
Clara crocodilo escapuliu
Vê se tem vergonha na cara
E ajuda clara, seu canalha
Olha o holofote no olho,
Sorte, você não passa de um repolho

Onde andará clara crocodilo? onde
Andará? será que ela está roubando algum
Supermercado? será que ela está
Assaltando algum banco? será que ela está
Atrás da porta de seu quarto, aguardando o
Momento oportuno para assassiná-lo com
Os seus entes queridos? ou será que ela
Está adormecida em sua mente esperando
A ocasião propícia para despertar e descer
Até seu coração… ouvinte meu, meu
Irmão?