1. Plinio Marcos em prosa e samba (apresentação de Plinio Marcos)

Eu conto história das quebradas do mundaréu. Lá de onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos. Falo da gente que sempre pega o pior, que come da banda podre, que mora na beira do rio e quase se afoga toda vez que chove, que só berra da geral sem nunca influir no resultado. Falo dessa gente que transa pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. Falo desse povão, que apesar de tudo, é generoso, apaixonado, alegre, esperançoso e crente numa existência melhor na paz de Oxalá.

Quem quiser saber meu nome, não precisa nem perguntar. Eu me chamo Plínio Marcos, sou pagodeiro do lugar.

O samba é a forma da gente minha falar dos seus mais ternos sentimentos. E é nesse embalo que eu vou. Vou contar do samba da Paulicéia e de sua gente, que é do tamanho do mundo, porque não se acanha de contar as histórias do seu pedaço de chão de terra firme. Com licença dos mais velhos, vamos de samba.

Ôôô seu Dionísio da Barra Funda, Inocêncio Mulata da Camisa Verde e Branco, Nenê da Vila Matilde, Bitucho, Marmelada, Jamburá, Sinval do Cambuci, Nego Braço, Carlão do Peruche, Bem Louco, Pé Rachado do Vai-Vai, a gloriosa alvinegra do Bexiga. Pato n’água, Vassourinha, seu Zezinho do Morro. Ôôô Dito Caipira da Unidos de Vila Maria.

A todos vocês que estão no samba desde o tempo do tamborim quadrado e do surdo do barricão. Tempo em que a polícia acabava com o pagode na base do chanfralho. Tempo que o negro pra sustentar samba na rua tinha que fazer e acontecer. A todos vocês eu peço licença.

Dona Sinhá da Barra Funda, Dona Euníce do Lavapés. Donata. Senhoras de valor provado nos desfiles da avenida. A benção tias e licença que eu vou falar do samba da Paulicéia. Ôôô Juarez da Cruz da Mocidade Alegre do Bairro do Limão, ôôô Eduardo Basílio da Rosas de Ouro da Vila Brasilândia, Ângelo do Vai-Vai, Feijoada e Chiclete do Vai-Vai também, alô Mestre Mala, irmão lá do Tatuapé, o dono do samba, alô-alô Renato Correia de Castro, alô-alô Sarmento, vocês todos que são do samba, me deem licença que eu vou falar do samba da Paulicéia. Vou contar a história de Geraldão da Barra Funda, Zeca da Casa Verde, Tuniquinho Batuqueiro. Três histórias do samba de São Paulo. Vou no balanço do samba dos batuqueiros de Santa Izabel. E vou na paz de Oxalá, que me guarda e guia.


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